domingo, 8 de novembro de 2009

Lugar, Espaço, Território e Globalização

Lugar, Espaço, Território e Globalização



SANTOS (1985:1) acentua que o espaço não pode ser apenas formado pelas coisas, os objetivos geográficos naturais e artificiais, cujo conjunto nos dá a natureza. “O espaço é tudo isso e mais a sociedade: cada fração da natureza abriga uma fração da sociedade atual”, e “considera como um ponto determinado no tempo, uma paisagem representa diferentes momentos do desenvolvimento de uma sociedade. A paisagem é o resultado de uma acumulação de tempos. Para cada lugar, cada porção do espaço, essa acumulação é diferente...” (SANTOS, 1982:38).


Assim, a paisagem é uma dimensão, uma escala do espaço geográfico, formado por fatos do passado e do presente revelando processos sociais e se constitui numa realidade objetiva, um produto social em permanente processo de transformação.


Destaco a conceituação de espaço definida mais recente – “o espaço é um meio dinâmico e unitário, onde se reúnem materialidade e ação humana. O espaço seria o conjunto indissociável de sistemas de objetivos naturais ou fabricados e de sistemas de ações, deliberadas ou não. A cada época, novos objetivos e novas ações vem juntar-se às outras, modificando o todo, tanto formal quanto substancialmente” (SANTOS – 1994).


Por sua vez, a expressão território e o derivado territorialidade, tem uso antigo nas ciências sociais e naturais. Recentemente, porém, com a retomada dos estudos da geografia política e de geopolítica, voltaram a ser mais utilizados e a ter maior atualidade. Hoje, concorrem com termos tradicionais de espaço e região, esta última tendendo a cair em desuso.

Nas ciências naturais, o território seria a área de influência e denominação de uma espécie animal que exerce o domínio da mesma, de forma mais intensa no centro e que perde esta intensidade ao se aproximar da periferia, onde passa a concorrer com domínios de outras espécies.

Em Ciências Sociais, a expressão território vem sendo muito utilizada, desde o século passado pelos geógrafos preocupados com o papel desempenhado pelo Estado no controle do território e que procurava estabelecer as relações entre as classes sociais e espaço ocupado e dominado.

Os especialistas em teoria do Estado também costumam afirmar que o Estado se caracteriza por possuir três elementos essenciais: o território, o povo e o governo, enquanto a nação é caracterizada pela coexistência do território e do povo, mesmo inexistindo governo e, conseqüentemente o Estado (ANDRADE, apud SANTOS et al 1998).



O conceito de local e de global em economia espacial pode ser equiparado a regional ou internacional. Não é apenas uma oposição entre o objeto de estudo, mas uma oposição de métodos.

O “meio local” (região ou país) é caracterizado por uma personalidade, uma região acha-se em relação mais ou menos benéfica com outras regiões. Semelhante tipo de abordagem centra-se na estrutura interna de um espaço e explica suas relações com outros espaços, mas globalmente não é uma visão estruturalista. Ao contrário, a abordagem global define as regiões por suas posições numa estrutura mais vasta. A região (e suas características) é o produto do inter-regionalismo. Por exemplo, essa abordagem exprime-se frequentemente em relações entre o “centro” e a periferia (BENKO, 1999).

Cada lugar é uma totalidade porque as ações que interagem criam eventos, estes que acontecem e transformam. Os eventos ocorrem nos lugares, portanto, é um conjunto de ações que são denominados totalizações, estas que se definem através de periodicidade, que nada mais é do que entender a história.

O lugar é tão importante para entender o mundo, quanto ao próprio mundo.

Lugar é o espaço do acontecer solidário, é o receptor da flecha do tempo e cada flecha do tempo que entra em um lugar, transforma a totalidade. O futuro está no lugar, este que é revelador e abriga a forma/conteúdo, ou seja, a força está no lugar (SOUZA, 1999).



Segundo LEFEBVRE (2000), o lugar contém uma multiplicidade de relações, discerne um isolar, ao mesmo tempo em que se apresenta como realidade sensível correspondendo a um uso e a uma prática social vivida.

Neste contexto o lugar revela a especificidade da produção espacial global, tem um conceito social e só pode ser entendido nessa globalidade que se justifica pela divisão espacial do trabalho que cria uma hierarquia espacial que se manifesta na desigualdade e se configura enquanto existência real em função das relações de interdependência com o todo, fundamentado na indissocialização dos fenômenos sociais.

Onde os lugares tanto se opõem como se completam ou se reúnem, o que introduz uma classificação por topias (isotopias, heterotopias, utopias, quer dizer lugares contrastantes), mas também é, sobretudo, uma oposição altamente pertinente entre os espaços dominados e apropriados.

A relação sociedade-espaço está na base da discussão marxista do temário geográfico. Para efeitos de análise será examinada, num primeiro momento, a forma mais elementar de intercâmbio material presente nessa relação, contendo, de um lado, a sociedade com as suas necessidades, trabalhos e formas de organização para a produção e, de outro, o espaço com seu substrato material mais imediato, expresso nos recursos naturais e na natureza em geral.



Desde logo, é preciso enfatizar que não se trata aqui do exame de conexões entre homem e quadro natural, com eventuais relações de causalidades entre eles. Do ponto de vista da teoria marxista sobre essa questão, trata-se, isto sim, de se investir nessa relação com intercâmbio material, processo no qual o trabalho humano é a categoria central.

A ótica eminentemente social é que pressupõe, desde o início, uma relação permanente de apropriação da natureza pelo homem. Para Marx, o próprio trabalho é definido como “um processo de que participam o homem e a natureza, processo em que o ser humano, com sua própria ação, impulsiona, regula e controla seu intercâmbio material com a natureza (MORAES e COSTA –1999).

Também significa pensar a história particular de cada lugar se desenvolvendo, ou melhor, se realizando em função de uma cultura/tradição/língua/hábitos que lhes são próprios, construídos ao longo da história e o que vem de fora, isto é, o que vai sendo modificado como conseqüência do processo de constituição mundial.

BOXI – 1 A falta de administração do crescimento econômico, tem sido o causador dos maiores problemas sociais perante o Estado. Tem desenvolvimento sem crescimento.






BOXI - 2
LUGAR

SUJEITO  - necessidades e ilusões do lugar

CRIAR ESPAÇOS  cultural,religioso, político, social e outros

CONJUNTO DOS  resulta na Cidade
ESPAÇOS
BOXI – 3 Desta forma teremos, a cidade com uma forma física e social naquele tempo, daí, a teoria da sociedade urbana é a do tempo e espaço.

SANTOS (Técnica Espaço e Tempo) – O espaço se globaliza, mas não é mundial como um todo, senão como metáfora. Todos os lugares são mundiais, mas não há espaço mundial. Quem se globaliza, mesmo, são as pessoas e os lugares.

O lugar é a base da reprodução da vida e pode ser analisado pela tríade habitante-identidade-lugar. A cidade, por exemplo, produz-se e revela-se no plano da vida e do indivíduo. Este plano é aquele do local. As relações que os indivíduos mantêm com os espaços habitados se exprimem todos os dias nos modos do uso, nas condições mais banais, no secundário, no acidental. É o espaço passível de ser sentido, pensado, apropriado e vivido através do corpo (CARLOS, 1996).

A mesma autora diz que o homem percebe o mundo através do seu corpo, de seus sentidos, que ele constrói e se apropria do espaço e do mundo. O lugar é a porção do espaço apropriável para a vida, apropriada através do corpo, dos sentidos, dos passos de seus moradores. É o bairro, é a praça, é a rua e, nesse sentido, poderíamos afirmar que não seria jamais a metrópole ou mesmo a cidade lato sensu a menos que seja a pequena vila ou cidade-vivida/conhecida/reconhecida em todos os cantos.

Motorista de ônibus, bilheteiros, são conhecidos-reconhecidos como parte da comunidade, cumprimentados como tais, não são simples prestadores de serviços. As casas comerciais são mais do que pontos de troca de mercadorias, são também pontos de encontro. É evidente que é possível encontrar isso na metrópole, em nível de bairro, que é o plano do vivido, mas definitivamente não é o que o caracteriza a metrópole.

Portanto, segundo a autora (1996) a tríade é cidadão-identidade-lugar que aponta a necessidade de considerar o corpo, pois é através dele que o homem habita e se apropria do espaço (através dos modos de uso). A nossa existência tem uma corporeidade, pois agimos através do corpo. Ele nos dá acesso ao mundo, é o vital, imediato, visto pela sociedade como fonte e suporte de toda cultura.

O conceito de território não deve ser confundido com o de espaço ou de lugar, estando muito ligado à idéia de domínio ou de gestão de uma determinada área. Assim, deve-se ligar sempre a idéia de território à idéia de poder, quer se faça referência ao poder público, estatal, quer ao poder das grandes empresas que estendem os seus tentáculos por grandes áreas territoriais, ignorando as fronteiras políticas.

Já em meados do século XX, as empresas motrizes, controlando instalações e explorações em áreas as mais diversas do globo, eram muitas vezes mais importantes que as nações e os próprios Estados. Este fato é hoje comprovado com o processo de mundialização da economia, fazendo esmaecer a importância das fronteiras políticas e diminuindo a importância da soberania dos Estados. E a perda de influência e de expressão dos estados é bem testemunhada com a desagregação da União Soviética, o grande acontecimento político da última década do século XX.



BOXI – 4 A produção de espaço esta ligado a produção de mercadoria e do mercado.



Mercadoria e mercado



Ocupação do espaço



Economia política



Administração



Negócios, comércio, etc.


- Capital tende ao Sujeito  mercadoria tende ao mundo  toda essa realidade é para si o CAPITAL  produção do espaço é o momento do capitalismo, daí  deve-se discutir o urbano, cotidiano (buscando um novo sujeito)  métodos alternativos.

- Todo espaço, deve antes ser criado no espaço mental,

- Podemos dizer que o espaço mental tem a liberdade de criar diversos outros espaços ilimitados e infinitos.

- Mas conflitantes – pois um saber é também um espaço, no qual o sujeito pode tomar posição para falar dos objetos dos quais ele faz o discurso......desde o teórico ao prático, do mental ao social, do espaço dos inventores aos que compraram os objetos.

- HEGEL - .....a história leva o saber absoluto.

- Max -.......revolução total havia de criar(produzir) um novo mundo.....compreender o próprio saber.

- H.L. - .....o saber se fragmenta e se especializa, ....o espaço inteligível não é percebido, ....o espaço percebido é o real e lógico.

- O sujeito se encontra a partir do outro – as necessidades humanas  mola propulsora de toda economia de classe : vestir –se, alimentar-se, moradia, segurança, trabalhar e outros,

- H.L.(Fim da História, pág.286)...Uma filosofia das necessidades(que tende a transformar o próprio marxismo em filosofia das necessidades...torna-se a moeda ideológica dos práticos que se agitam nos quadros da sociedade em questão.

- O capitalismo vai ocupando o espaço mental dos consumidores, de uma forma passiva – talvez pela hegemonia americana – criando o consumismo global.

- Hegemonia se exerce através do espaço bem definido.

- ESPAÇO MENTAL  CONSUMISMO  CAPITALISMO.

- O capitalismo de organização, quer modelar a sociedade, modelar as relações sociais, a ciência, ou seja, isolar ou destruir os centros de resistência, tanto no pensamento como na pratica.

- Espaço/tempo/energia – tríade do trabalho, do desenvolvimento com crescimento desde que haja administração.

- Gerando crescimento essa tríade gera outra – espaço/tempo/local.

- Cada sociedade produz um espaço, o seu próprio. Gerando a ilusão da idealidade filosófica e da materialidade.

- Todo espaço torna-se intercambiável, por isso da idéia de homogeneização.

- Comercio é o espaço ou o lugar de acumulação – Burguesia.

- O trabalho é um conjunto de relações sociais, é o espaço social e é suporte de coisas – o trabalho cria as classes sociais.





BOXI – 6 * O Período Técnico-Científico (Milton Santos – Técnica Espaço Tempo)

A fase atual da história da humanidade, marcada pelo que se denomina de revolução, científico-técnica, é freqüentemente chamada de período técnico-científico. Em fases anteriores, as atividades humanas dependeram da técnica e da ciência.

Recentemente, porém, trata-se da interdependência da ciência e da técnica em todos os aspectos da vida social, situação que se verifica em todas as partes do mundo e em todos os países.

Nesta nova fase histórica, o mundo está marcado por novos signos, como: a multinacionalização das firmas e internacionalização da produção e do produto; a generalização do fenômeno do crédito, que reforça as características da economização da vida social;os novos papéis do Estado em uma sociedade e uma economia mundializadas; o frenesi de uma circulação tornada fator essencial da acumulação; a grande revolução da informação que liga instantaneamente os lugares, graças aos progressos da informática.

BOXI –7 José Cárpio Martin / UCM

As características do Desenvolvimento Local propostas por diversos autores levam agora a entender o D. L. como “como um processo dinamizador da sociedade local”para melhorar a qualidade de vida da comunidade local, sendo o resultado de compromisso, pelo que se entende por espaço, como lugar de solidariedade de intuições de grupos e indivíduos.

A força do lugar – O fenômeno da globalização está formando uma complexa rede de relações entre os lugares do mundo e, nesta realidade, “o local” constitui sua própria força de desenvolvimento.

A tendência atual da globalização é a de que os lugares se unam verticalmente. Porém, os lugares também podem se unir horizontalmente, reconstruindo as bases da convivência local.

A eficácia das ações depende da existência das virtualidades locais que estão relacionadas com as potencialidades e o capital sinérgico do território de adquirem sua totalidade com as formas de interação e a identidade.

O lugar como espaço de solidariedade ativa – A difusão da modernidade(meio cientifico e informacional dos territórios) amplia as possibilidades de interação, gerando sistemas e subsistemas de solidariedades de diferentes naturezas nas diferentes escalas desde o local ao global.

A cultura popular local simboliza o homem e seu entorno, um tipo de consciência e de materialidade social. Sua valorização permite fortalecer a individualidade e a auto-estima frente ao mundo e dá sentido às comunidades humanas, na busca do desenvolvimento da própria criatividade, em conformidade com seus valores.

O dinamismo do desenvolvimento é dependente também da articulação e uso dos recursos naturais sociais locais existentes. E por sua vez, a decisão política sobre o modo e a capacidade de utilização econômica dos recursos depende da cultura local, das relações internas e externas, entre o local e o global. Desta maneira, a idéia do desenvolvimento está ligada ao “bem-estar”dos povos.

BOXI – 8 Globalização – Milton Santos

- Este mundo globalizado, visto como fábula, erige como verdade um certo numero de fantasias, cuja repetição, entretanto, acaba por se tornar uma base aparentemente sólida de sua interpretação (Maria da Conceição Tavares – Destruição não Criadoras,1999)

- A máquina ideológica que sustenta as ações preponderantes da atualidade é feita de peças que se alimentam mutuamente e põem em movimento os elementos essenciais à continuidade do sistema.

- Alguns exemplos são importantes em destacar. Fala-se, em aldeia global para fazer crer que a difusão instantânea de notícias realmente informa as pessoas. A partir desse mito e do encurtamento das distâncias - para aqueles que realmente podem viajar- também se difunde a noção de tempo e espaço contraídos. Ë como se houvesse tornado, para todos, o mundo ao alcance da mão.

- Um mercado avassalador dito global é apresentado como capaz de homogeneizar o planeta quando, na verdade, as diferenças locais são aprofundadas. Há uma busca de uniformidade, ao serviço dos atores hegemônicos, mas o mundo se torna menos unido, tornando mais distante o sonho de uma cidadania verdadeiramente universal.

- Enquanto isso, o culto ao consumo é estimulado.

- Fala-se, igualmente, com insistência, na morte do Estado, mas o que estamos vendo é seu fortalecimento para atender aos reclamos da finança e de outros grandes interesses internacionais, em detrimento dos cuidados com a população cuja vida se torna mais difícil.




- Esses poucos exemplo, recolhidos numa lista interminável, permitem indagar-se, no lugar do fim da ideologia proclamado pelos que sustentam a bondade dos presentes processos de globalização, não estaríamos, de fato, diante da presença de uma ideologização maciça, segundo a qual a realização do mundo atual exige como condição essencial o exercício de fabulações.

- De fato, para a grande maior parte da humanidade a globalização está se impondo como uma fábrica de perversidades. O desemprego crescente torna-se crônico.

- A pobreza aumenta e as classes médias perdem a qualidade de vida. O salário médio tende a baixar. A fome e o desabrigo se generalizam em todos os continentes.

- Novas enfermidades como a AIDS se instalam e velhas doenças, supostamente extintas, fazem seu retorno triunfal. A mortalidade infantil permanece, a despeito dos progressos médicos e da informação.

- A educação de qualidade é cada vez mais inacessível. Alastram-se e aprofundam-se males espirituais e morais, como o egoísmos, os cinismos e principalmente a corrupção.



- A perversidade sistêmica que está na raiz dessa evolução negativa da humanidade tem relação com adesão desenfreada aos comportamentos competitivos que atualmente caracterizam as ações hegemônicas.

- Todas essas mazelas são direta ou indiretamente imputáveis ao presente processo de globalização.




DISCUSSÃO

- Todavia, podemos pensar na construção de um outro mundo, mediante uma globalização mais humana. As bases materiais do período atual são, entre outras, a unicidade da técnica, a convergência dos momentos e o conhecimento do planeta.

- É nessas bases técnicas que o grande capital se apóia para construir a globalização perversa que falamos acima. Mas essas mesmas bases técnicas poderão servir de outros objetivos, se forem postas ao serviço de outros fundamentos sociais e políticos.

- Parece que as condições históricas do fim do século XX apontavam para essa ultima possibilidade. Tais novas condições tanto se dão no plano empírico quanto no plano teórico.



OBS: Partindo da contradição trabalho-capital, MAX dizia que, à medida que, avançam a técnica e a produtividade, o valor como medida do trabalho se torna cada vez mais pobre de organizar o trabalho, de medir e alocar o dispêndio de energia humana.

A aplicação do componente político da técnica e do trabalho não representa também uma aplicação das condições objetivas para o questionamento do próprio trabalho assalariado, da organização mercantil da sociedade.






RESPOSTA DE MILTON SANTOS – Creio que sim. Basta você ver os remédios hoje, o que tem de matéria e o que tem de ideologia, de propaganda. O conteúdo propagandístico do valor é enorme. Pagamos para sermos enganados. Paga-se o processo de engano que acompanha e que precede a produção das coisas, das relações e das imagens. É o papel formidável da informação.

A SUPREMACIA DOS OBJETOS – Ana Fani Alexandri Carlos

- Apesar de Max estar completamente fora de moda hoja, acredito que ninguém ainda esqueceu de como ele inicia O Capital: ä riqueza da sociedade na qual domina o modo de produção capitalista se apresenta como um enorme acúmulo de mercadorias e a mercadoria individual como a forma elementar de riqueza”

- Mais adiante no que se refere ao fetiche da mercadoria afirma que “`a primeira vista a mercadoria parece ser uma coisa simples e trivial de compreensão imediata,mas sua análise demonstra que é um objeto endemoniado”

- Para Max, segundo Ana Fani, o fetiche da mercadoria deriva do fato de que ela reflete para os homens o caráter social de seu próprio trabalho como característica objetiva inerente aos produtos do trabalho, como a propriedade social natural das ditas coisas e, do mesmo modo, reflete a relação social que existe entre os produtores e o trabalho global como relação social entre os objetos existentes à margem dos produtores.







- No mundo moderno essa situação atingiu o seu limite. A mercadoria se autonomizou ante o sujeito determinando as relações entre as pessoas uma vez que o processo de reprodução das relações sociais dá-se cada vez mais fora da fabrica, na cidade, englobando a sociedade e o espaço inteiro, invadindo o cotidiano e produzindo o que Granou chamou de reino da mercadoria.

- Na sociedade de consumo passa-se definitivamente da cultura da escassez – alicerçada na limitação das necessidades – para a da abundância, esta constituída pela multiplicação dos objetos e na amplitude do consumo, onde o homem passa a ser visto e pensado enquanto simples consumidor.

- Veja bem. Apagando-se a idéia do homem criativo, substituído pela imagem do consumidor, Isto é, homens dominados pelo valor da troca.

- Isto porque o alargamento da base econômica da sociedade requer a multiplicidade dos objetos produzidos com um tempo de vida cada vez menor.

DISCUSSÃO:

- No mundo atual – fechado, onde a produção do capital enche todo o espaço social, o modo de vida reduz-se a este incrível consumo de mercadoria duas vezes consumidas, sendo que a primeira na imagem que impõe o capitalismo e a segunda no uso do objeto-mercadoria.






- Veja bem - duas vezes alienantes: a primeira da mercadoria que cria a ilusão de que ao apropriar-se desta mercadoria o individuo se realiza, quando, na verdade, apenas se despersonaliza; a segunda vez, quando adquire um objeto-mercadoria que apenas o deixa insatisfeito pois quer ser diferente, não é gozar com o uso dos objetos mas, apropriar-se constantemente das imagens-objetos-mercadorias com qualidade ilusória de objetos diferentes.

- Nesse sentido “o reino absoluto da mercadoria é também o da alienação e da servidão”

- Na outra vertente, o objeto também se modifica radicalmente através da separação entre significado-significante, isto é, entre forma e conteúdo, valor de uso esigno, e, dese modo, produzindo os objetos-signos não ligados a uma função ou definidos por uma necessidade.

- Agora os objetos produzidos correspondem a uma outra lógica, a da moda ou do prestígio – o signo é agora distintivo das pessoas – o que cria uma “lógica fetichista”, nas palavras de Baudrillard.

- Conseqüentemente os objetos se hierarquizam como decorrência do desaparecimento generalizado do valor de uso e da imposição da função simbólica do objeto pela diferenciação e pelo prestígio.

- Nesse contexto, surge o “gadgat”(bugiganga) que na análise de Baudrillard é o emblema da chamada sociedade pós-industrial – definido pelo desaparecimento relativo de sua função objetiva – que o identifica com o utensílio – em proveito de sua função de signo, se admitirmos que o objeto de consumo se caracteriza por uma espécie de ïnutilidade funcional”.

- O gadgat segundo o mesmo autor, “faz parte de uma lógica sistemática que apreende toda a cotidianidade sobre o modo espetacular e, por sua vez, torna suspeita de artificialidade, de trucagem e de inutilidade todo ambiente de objetos e, por extensão, todo ambiente de relações humanas e sociais”

- Ele é pobre, é o efeito da moda, é uma espécie de acelerador artificial dos outros objetos, ele é tomado num circuito onde o útil e o simbólico se resolvem numa sorte de inutilidade combinatória como em seus espetáculos óticos e totais, onde a festa ela mesma é gadgat , quer dizer, pseudo-evento social – um jogo sem jogadores.

- Construção e reprodução do cotidiano passa pela idéia de que os homens se relacionam com um conjunto de objetos que, cada vez mais, regem as relações entre os homens e são convertidos em elementos distinguidores na construção da sociabilidade ou da sua negação.

- Diminui a relação direta entre os homens, por sua vez, a mídia se instala na vida cotidiana como propagação profunda de todos os componentes.

- O triunfo dos objetos faz desaparecer o homem, isto é, na resplandecência do objeto, o homem torna-se ausente e ai o objeto aparece como sujeito.

- Assim, o processo de produção produz uma massa de mercadorias que se sobrepõe ao trabalho humano e que lhe é alienada e, em seu desenvolvimento, produz uma separação abissal entre o sentido da mercadoria, o uso e o seu valor. Daí, neste contexto, a mercadoria criou o maravilhoso espetáculo do valor de troca.

CONSIDERAÇÕES FINAIS SOBRE MERCADORIAS

- Vivemos num mundo de representações, povoado de objetos como parte de sua reprodução. Há um mundo de representações, isto é, a representação se generaliza na sociedade atual onde o objeto dotado de prestígio e poder hierarquiza a sociedade e se consome como signo de modernidade, status, tecnicidade.

Nenhum comentário:

Postar um comentário