domingo, 28 de março de 2010

Civilização Inca - UM POVO SEM FOME

Civilização Inca - História da Civilização Inca
Os Incas foram um dos povos mais civilizados da América.Compunham, principalmente as tribos Quéchuas, Aymará, Yunka, etc, que formavam, segundo os espanhóis o Império dos Incas, denominação derivada da família reinante pertencente à tribo dos Quéchuas, a principal do império. Habitavam a região hoje ocupada pelo Equador, Peru, norte do Chile, Oeste da Bolívia e noroeste da Argentina. Mais de dez milhões de cidadãos haviam se fundido nesta unidade política e cultural que era de elevado nível. Fisicamente os Incas eram de pequena estatura, pele morena, variando do moreno claro ao escuro, cabelos pretos e lisos quase imberbes. Quanto a organização social e política segundo o testemunho espanhol, eles eram perfeitos, possuidores de espírito comunitários.

Adoravam o Sol reencarnado em cada Inca ou imperador, que era filho do Grande Sol, deste modo o Imperador era considerado deus dentre o povo. Os mortos eram sepultados não somente em templos, mas também em torres túmulos e covos (denominados Chullpas). Os templos dos Incas não eram mais do que habitações de maiores dimensões e eram construídas as superfícies da terra. Um dos aspectos que mais se salientam na cultura incaica é a solução que deram para o problema das comunicações, que apresentavam sérias dificuldades na região dos Andes. Estabeleceram uma complexa rede de caminhos e um corpo permanente de mensageiros (Tiasques) encarregados de transmitirem as noticias. Praticamente a agricultura que havia atingido entre eles, notável desenvolvimento, demonstrado pelas obras de irrigação.
Os Incas empregavam fartamente os metais, cobre, bronze, ouro, prata, o que despertou a cobiça dos conquistadores.
Em 1553, o país foi conquistado por Pizarro e submetido à coroa espanhola. A cultura Inca foi totalmente destruída e, na atualidade restam apenas ruínas de seus grandiosos monumentos templos e palácios.

Durante muito tempo a historiografia abordou o Estado inca como um "paraíso perdido", no qual inexistia a fome, a exploração e a violência. Estes fatos incentivaram a imaginação dos novelistas, estudiosos e pesquisadores, que procuraram descobrir influências de extraterrestres ou a construção do primeiro Estado comunista em terras americanas.

Características

O estado mantinha um sistema tributário que cobrava tributos para manter os velhos e os doentes, e para fornecer alimentos nas épocas de má colheita, com um soberano, que a ideologia inca dizia ser o filho do sol (o sol lhe outorgava proteção divina e ordem social).

Realmente é extraordinário que uma civilização tenha se estendido por 4000 quilômetros ao longo da Cordilheira dos Andes sem dispor da roda nem duma boa malha hidroviária para transportar os excedentes agrícolas, que foi o que causou o aparecimento das civilizações em outras partes, pois os Incas com suas técnicas de engenharia fizeram obras que seriam uma árdua tarefa mesmo para a engenharia moderna .

Os incas eram construtores exímios. Sem o auxílio da argamassa, edificaram paredes tão perfeitamente ajustadas que era impossível introduzir a lâmina de uma faca entre as pedras . Milhares quilômetros de estradas ligavam as quatro províncias ou confins como as chamavam, à Cuzco a capital, era superior a tudo o que existia à data na Europa. Embora o pavimento de pedras lisas pudesse ter sido concebido para veículos, numa sociedade sem cavalos e sem roda todos andavam a pé. Estas estradas transpunham rios por meio de pontes pênseis, eram tão sólidas que muitas delas foram usadas ainda no século XX .

Uma sociedade que tributava as pessoas e não a produção devia possuir um sofisticado esquema de controle. O Estado inca conhecia a quantidade de homens, mulheres e crianças de cada ayllu, conhecia o número de indivíduos com que podia contar para montar um exército sem afetar a produção, sabia quanta mão-de-obra era necessária para construir uma ponte e onde requisitá-la. Sabia das necessidades de alimento, roupas e armas para sustentar os mitamáes.



Quipo

O segredo dessa contabilidade sem computadores são os quipos, logos cordões aos quais eram amarrados uma multiplicidade de cordõeszinhos, onde se fazia diferentes tipos de nós, como sinais. Os quipucamayucs eram responsáveis por essa contabilidade e caso cometessem qualquer erro ou na confecção ou na leitura, pagavam com a morte.

RESUMO da História Inca

20.000 - 100 a .C

Há cerca de 20.000 anos atrás, tribos de caçadores que tinham atravessado o estreito de Bering dirigiam-se para o sul e acabaram por atingir a terra que nós atualmente chamamos de América do Sul. Por volta do ano 5.000 a.C., habitantes das regiões montanhosas começaram a cultivar alimentos e começaram a viver em povoados permanentes.
Cerca do ano 2.000 a.C., os pescadores que habitavam a costa começaram igualmente a construir habitações permanentes. Mais ou menos no ano 1.200 a.C., os habitantes da zona costeira já cultivavam o milho, teciam roupas de boa qualidade e faziam cerâmica.
Ao mesmo tempo surgiu na zona montanhosa a primeira civilização importante denominada Chavin. Por volta do ano 100 a.C., a costa nordeste era um reino cuja a capital era Moche, e no Sul existia outro reino com capital em Nazca.

100 a.C. - 1.100 d.C.

A primeira civilização que floreceu na região montanhosa tinha sua capital em Tiahuanaku . Cerca de 800 d.C. os habitantes de tiahuanaku já tinham conquistado a costa meridional. No ano 1000 d.C., o Peru era um conjunto de tribos guerreiras sem chefes poderosos. Foi a época do império dos Chimus também reinar.

1100 - 1430 d.C.

O Inca Manco Capac tinha se estabelecido em Cuzco. Entretanto, as tribos provenientes do norte haviam formado o reino Chimu na costa setentrional. Construíram grandes cidades, segundo um plano retangular, dotadas de grandes muros de pedra.
Em Cuzco, os Incas tornaram-se mais poderosos. O filho de Manco, Sinchi Roca, tal como seu pai, governava metade de Cuzco e nada fez para tornar a família mais poderosa. Encorajou a extração de minerais e a tecelagem e foi um grande patrono da agricultura. Mas seu filho Capac Yuapanki, nascido quando Sinchi Roca já era velho: expandiu o território Inca a Cuzco inteira.
O Inca Roca foi o primeiro a ser denominado Sapa Inca (o Inca Supremo). Grande parte do seu reinado passou-se em disputas constantes com as tribos Chancas. O Inca Roca sucedeu Yahuar Huacac que foi ameaçado por uma aliança das tribos montanhosas. Seu filho, Wiracocha, também sofreu ataques, mas conseguiu repelir os invasores. No entanto acabou por fugir de Cuzco quando as tribos Chancas puseram em perigo seu reino.

1438 - 1493 d.C.

O filho de Wiracocha, Inca Yuapanki, sucedeu-lhe no trono. Venceu as tribos Chancas, matou seu rei, e para fortalecer sua posição na zona montanhosa, propôs paz às outras tribos e ofereceu mulheres incas aos seus lideres. Reconstruiu Cuzco, tornando-a capital, e organizou um sistema governativo com funcionários incas, que chefiavam cada tribo como um grupo de cidadãos equiparados dentro do império.
Quando seu filho, Topa Inca Yuapanki, atingiu os 15 anos o enviou para o território do norte para aumentar suas terras. A seguir anexou seu império ao Chimu após algumas batalhas psicológicas, e o tornou mas uma parte do Império Inca.
Quando Inca Yuapanki se retirou, seu herdeiro ocupou o trono. Topa Inca conquistou as tribos que habitavam as florestas amazônicas, venceu tribos rebeldes em Torno do Lago Titicaca e levou seu império para o Sul até o Chile. Morreu em Cuzco 1493 d.C..

1493 - 1572 d.C.

Huayna Capac subiu ao trono ainda muito jovem. Não havia problema quanto ao seu sucessor. Casara-se com uma princesa de Quito e ela lhe dera um filho, Atahuallpa.
Mas os se tornar Sapa Inca casou-se com sua irmã e tiveram um filho, Huáscar.
Ao sul , uma tribo invasora atacou a fronteira do Peru com o Chile. Entre eles encontravam-se alguns espanhóis, que espalharam uma epidemia de varíola. A epidemia devastou aquela região acabando por matar Huayna Capac, em 1525.
O Inca Huáscar subiu ao trono, mas Huayna Capac declarou que quito deveria ser herdada por Atahuallpa. Em 1532, iniciou-se uma guerra civil entre os dois meio-irmãos. Atahuallpa acabou por aprisionar o pais inteiro e aprisionou Huáscar.
No mesmo ano Francisco Pizarro atingiu o peru com seu pequeno exército espanhol. Durante os primeiros meses foram gradualmente conquistando a zona litorânea, acabando por se defrontar com todo o exército Inca e, por meio de uma armadilha, conseguiram capturar Atahuallpa. Dois anos depois os espanhóis haviam conquistado todo o tawantsuyo.

sábado, 27 de março de 2010

Situação da (in)segurança alimentar no Brasil

Situação da (in)segurança alimentar no Brasil
Tasso de Sousa Leite1, José Paulo Pietraffesa2


RESUMO: A partir da definição apresentada pelo Brasil na Cúpula Mundial d Alimentação, em 1996, que vê a segurança alimentar e nutricional como um direito humano básico e a insegurança alimentar (fome) como violação desse direito, procura-se neste trabalho traçar um panorama da fome e pobreza no Brasil.

O conceito de segurança alimentar foi definido de forma bastante clara no documento oficial do Brasil, apresentado na Cúpula Mundial da Alimentação em 1996. O documento sistematiza o conceito da seguinte forma:

"Segurança Alimentar e Nutricional significa garantir a todos acesso a alimentos básicos de qualidade, em quantidade suficiente, de modo permanente e sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais, com base em práticas alimentares saudáveis. Contribuindo, assim, para uma existência digna em um contexto de desenvolvimento integral da pessoa humana".

Essa definição implica uma abordagem da segurança alimentar como um direito humano básico e da insegurança alimentar (fome) como violação desse direito. Com base nessa definição, procura-se neste trabalho traçar um breve panorama da fome e pobreza no Brasil. O trabalho está organizado da seguinte forma: o item 2 apresenta uma discussão sobre os principais conceitos utilizados neste trabalho. O item 3 discute, com base no "Relatório da insegurança alimentar no mundo" (SOFI 2000), do Fundo das Nações Unidas Para a Agricultura e Alimentação, (FAO), a relação entre fome e subnutrição e a disponibilidade de alimentos. O item 4 apresenta os números da pobreza e indigência no Brasil, com base nos vários estudos que utilizam a abordagem da insuficiência de renda. O item 5 discute as causas estruturais da fome e da pobreza no Brasil (concentração de riquezas). Por fim, no item 6, apresentam-se as considerações finais.

REFERÊNCIAS CONCEITUAIS E METODOLÓGICAS

A discussão acerca do problema da segurança alimentar compreende a utilização de pelo menos três conceitos: pobreza, fome e desnutrição. De acordo com Monteiro, apud Takcgi, Silva e Grossi (200, 1 p. 17), há uma estreita relação entre esses conceitos, mas cada um possui uma definição própria. A pobreza ocorre quando, por falta ou insuficiência de renda, as pessoas não conseguem ter acesso aos meios de subsistência básicos, tais como alimentação, saúde, habitação, vestuário e educação, entre outros elementos necessários para uma vida com o mínimo de qualidade. A fome ocorre quando as pessoas não conseguem obter uma alimentação diária que supra suas necessidades de energia requeridas para a manutenção de seu organismo, considerando as várias atividades físicas normais do ser humano. A desnutrição, que geralmente acompanha as situações de fome e pobreza, decorre da inadequação alimentar tanto nos aspectos quantitativos (energéticos) quanto nos qualitativos (nutrientes).




Isso implica dizer que a fome não é a única causa da desnutrição. Quando uma determinada comunidade é acometida por fome, inevitavelmente acontecerá a desnutrição. Mas é bastante comum a ocorrência da desnutrição em pessoas que possuem suas necessidades energéticas atendidas, ou seja, que não "passam fome". Especialmente entre a população infantil, a desnutrição geralmente ocorre devido a uma inadequação qualitativa da dieta, agravada pelo desmame precoce, e à precariedade das condições sanitárias. Monteiro (1995) esclarece, ainda, que pode haver situações de generalizada pobreza em uma determinada localidade (devido à precariedade do acesso à moradia, educação, saneamento básico), sem que a sua população passe fome.

Pode-se também adicionar uma outra distinção conceitual importante: pobreza absoluta e pobreza relativa. O significado do primeiro conceito é similar ao conceito de pobreza visto anteriormente. O segundo se refere às situações de desigualdade social e à concentração da riqueza. Em termos hipotéticos uma sociedade pode apresentar elevados níveis de desigualdade e baixos índices de pobreza (absoluta); ou ainda, pode ser uma sociedade relativamente igualitária sem que a população tenha as suas necessidades básicas atendidas. No caso do Brasil convive-se com os dois tipos de pobreza, e ambas apresentam níveis absurdamente elevados. Mais do que isso, há uma estreita relação de causalidade entre elas, ou seja, a desigualdade na distribuição de riquezas é fator determinante dos altos índices de pobreza.

Essa distinção conceitual se reflete também em várias formas de se quantificar o problema. De forma geral, pode-se agrupar esses métodos em duas grandes linhas. A primeira se baseia na mensuração das necessidades básicas e utiliza os chamados métodos diretos. Nessa linha, desenvolvem-se pesquisas sobre a adequação entre o consumo de calorias e proteínas e as características físicas das pessoas (como altura e peso), considerando os tipos de atividades físicas que elas desempenham. Os indicadores mais utilizados são o consumo calórico e os dados antropométricos.

A outra linha de pesquisa prioriza os chamados métodos indiretos (ou "métodos da insuficiência de renda"). As pesquisas desenvolvidas com essa orientação metodológica pressupõem que uma alimentação adequada ou a satisfação de outras necessidades básicas podem ser inferidas a partir da mensuração da renda familiar.

Não há, evidentemente, nenhuma incompatibilidade entre essas duas linhas de pesquisa. No entanto, devido ao fato de serem em maior número e mais atuais, priorizaremos na exposição a seguir as pesquisas que se baseiam nos métodos indiretos. Além disso, acreditamos que há bastante evidências de que a insuficiência de renda é fator determinante da situação de fome e pobreza de grande parte da população brasileira. A esse respeito vale citar as palavras de (Takagi, Silva e Grossi (2001):

"No caso brasileiro, não há dúvida que a grande causa da falta de acesso aos alimentos, bem como da desnutrição infantil, é o baixo nível de renda. A Pesquisa Nacional de Saúde e Nutrição (PNSN) de 1989 constatou que ligeiros acréscimos na renda domiciliar traduzem-se em melhor desempenho no crescimento da população até 25 anos de idade. Hoffmann (1995) também constatou correlação negativa entre prevalência de retardo no crescimento na infância e o rendimento mediano das famílias destas crianças."



As estimativas do SOFI 2000 para o Brasil estão resumidas no quadro abaixo.



Disponibilidade de alimentos
Consumo recomendado
Consumo Médio
Déficit de calorias
Total de pessoas
Proporção de subnutridos

2.960
1.900
1.659
250
15,9
10% da

KPD*
KPD*
KPD*
KPD*
milhões
população

*(KPD = kcal/pessoa/dia)




FOME E DISPONIBILIDADE DE ALIMENTOS

A FAO é responsável pela realização e divulgação de um dos estudos mais abrangentes sobre (in) segurança alimentar no mundo. Um dos objetivos centrais do relatório "Estado da insegurança alimentar no mundo (SOFI)" é monitorar o cumprimento das metas de redução da pobreza e desnutrição traçadas pelos 186 países presentes na Cúpula Mundial da Alimentação, realizada em Roma em 1996.

Uma das principais constatações da segunda edição do Relatório da FAO, o SOFI 2000, é que a situação da insegurança alimentar no mundo praticamente não mudou desde o primeiro relatório. Segundo o SOFI 2000, a estimativa do número de pessoas subnutridas no período 1996-1998, é praticamente a mesma do período anterior (1995-1997): 826 milhões de pessoas subnutridas no mundo. Desse total, 792 milhões vivem nos países em desenvolvimento e 34 milhões nos países desenvolvidos. Isso mostra que ainda estamos longe de cumprir a meta da Cúpula Mundial, de reduzir pela metade o número de pobres até 2015. Segundo o diretor-geral da FAO, para alcançar essa meta, a taxa de redução do número de pobres deveria sair dos atuais 8 milhões de pessoas por ano para, no mínimo, 20 milhões de pessoas por ano, até 2015 (SOFI, 2000).

O método utilizado pela FAO para estimar o contingente de subnutridos em um país baseia-se nos seguintes critérios: calcula-se, com base nos dados sobre produção, comércio e estoques de alimentos, a disponibilidade de ca­lorias per capita; estima-se a necessidade calórica da população, considerando a diferença entre os diversos grupos (idade, gênero etc.); e, por fim, com­binam-se esses dados com informações sobre o consumo de alimentos e a dis­tribuição de renda. Consideram-se subnutridos aqueles que consomem menos calorias que o mínimo esta­belecido.

Como já era esperado, o estudo revela que a disponibilidade de alimentos é bastante superior às necessidades mínimas estabelecidas para o caso brasileiro, mas ainda assim o país possui cerca de 16 milhões de pessoas subnutridas. A partir da última edição do Relatório, a FAO começou a estimar a gravidade da fome, através do cálculo do déficit de calorias. No Brasil as pessoas consideradas subnutridas consomem em média 1.659 calorias por dia e necessitam, portanto, de cerca de 250 kcal/pessoa/dia para atingir o consumo mínimo recomendado. Nos países desenvolvidos esse déficit é de 130 kcal/pessoa/dia, enquanto nos países onde a situação de fome é mais grave o déficit é de 300 kcal/pessoa/dia.

Cabe ressaltar que uma das maiores virtudes do Relatório da FAO, a sua amplitude, constitui-se também em um de seus pontos fracos. A abrangência mundial do estudo, que é uma condição para comparações internacionais, o torna pouco adequado para uma avalia­ção mais aprofundada da realidade de cada país. Alguns estudiosos do tema consideram que certas limitações metodológicas, como a não-consideração das perdas no decorrer do processo de produção de alimentos, levam a uma subestimação do número de pessoas subnutridas (Takagi, Graziano da Silva & Del Grossi, 2001).




No entanto, o maior mérito do Relatório da Insegurança Alimentar no Mundo é derrubar um dos mitos mais poderosos acerca do problema da fome. O Relatório mostra que dos 98 países em desenvolvimento somente 6 países não têm disponibilidade de alimentos suficientes para alimentar adequadamente as suas populações. O problema nos outros 92 países não é de disponibilidade de alimentos, mas de incapacidade de acesso aos alimentos produzidos. É, portanto, uma questão de distribuição.

Cabe ressaltar, no entanto, que após o Plano Real o país tem recorrido constantemente às importações de alimentos como uma estratégia para estabilizar os preços destes. Isso significa que, a partir de meados dos anos 90, a disponibilidade de alimentos para o abastecimento do mercado interno passa a depender fortemente das importações, gerando uma situação de profunda insegurança alimentar. Basta mencionar que a importação de grãos e fibras passou de cerca de 3 milhões de toneladas no início da década para 12 milhões em 1999.

POBREZA, INDIGÊNCIA E INSUFICIÊNCIA DE RENDA

O pressuposto básico dos estudos que utilizam a renda como principal indicador para estimar as situações de fome e pobreza é de que o nível de renda define o nível de acesso a uma alimentação adequada. Esses estudos possuem em comum a definição de valores de referência, denominados linha de pobreza (LP) e linha de indigência (LI). Normalmente, a LI é definida com referência ao valor de uma cesta básica de alimentos, enquanto a LP inclui, além da cesta, outros bens e serviços considerados imprescindíveis para uma vida mais saudável (moradia, transporte, saúde etc.). A partir dessas definições, considera-se pobre ou indigente a pessoa cuja renda se situa abaixo desses valores de referências.

No entanto, não há um consenso acerca do método mais adequado para se estabelecer esses valores de referências. Normalmente, os valores atribuídos às linhas de pobreza e indigência estão relacionados aos objetivos dos estudos e à natureza dos dados utilizados. Pode-se classificar os estudos que definem a pobreza pela insuficiência de renda em dois grandes grupos: aqueles que utilizam como LP e LI um valor único para todo o país e aqueles que partem da estrutura de consumo das famílias (Takagi, Graziano da Silva & Del Grossi, 2001).

A tabela 1 apresenta dados de pesquisa mais recentes sobre a situação da pobreza e indigência no Brasil. Antes de qualquer tentativa de comparação esses resultados devem, portanto, ser compreendidos à luz da metodologia utilizada.



Tabela 1 - Comparação da Proporção de Indigentes e Pobres, segundo autores selecionados - 1999



Brasil
Rocha (2000) % indigentes
Rocha (2000) % pobres
Paes de Barros et al. (2001) % indigentes
Paes de Barros et al. (2001) % pobres
Hoffmann (2001) % pobres
Fome Zero (2001) % de pobres

TOTAL
8,7
35,0
14,5
34,1
18,1
27,6

Metropolitana
7,1
36,9
-----
-----
10,1
19,1

Urbana Não-metropolitana
7,3
31,8
-----
-----
15,1
25,5

Rural
15,3
40,3
-----
-----
38,5
46,1


Fonte: Adaptado do Projeto Fome Zero, versão 3 (Instituto da Cidadania, 2001)



Os trabalhos de Paes de Barros et al. e de Hoffmann utilizam valores únicos para todo o país. Paes de Barros et al. utilizam os dados oficiais do Ipea. As LI e LP empregadas são as mesmas definidas para a Região Metropolitana de São Paulo. Hoffmann utiliza como linha de pobreza para todo o país o valor correspondente a um quarto do salário mínimo de agosto de 1980 (R$46,15 em setembro de 1999).

Uma das justificativas para se usar esse método é que sua base, o salário mínimo, deveria suprir as necessidades vitais das pessoas (alimentação, moradia, transporte, saúde...). A utilização mais freqüente desse método se deve à transparência e praticidade na coleta dos dados. No entanto ele possui a desvantagem da variação periódica do salário mínimo. Além disso esse método, como todos que utilizam como LP e/ou LI valores únicos para todo o país, não leva em consideração as diferenças regionais e nem as diferenças entre o mundo rural e urbano no Brasil (Takagi, Graziano da Silva & Del Grossi, 2001, p. 12).

O estudo de Rocha faz parte do grupo de pesquisas que partem do consumo das famílias para definir as linhas de pobreza e indigência. Os valores de referência são estimados a partir da estrutura de consumo das famílias e dos preços em cada região. Essa é uma tentativa de considerar as diferenças de padrões de consumo e de custo de vida entre as regiões e entre as áreas rurais e urbanas. Os valores estabelecidos por Rocha são os seguintes:

a) LI varia de R$ 20,37 (áreas rurais do Centro-Oeste) a R$ 41,86 (Região Metropolitana do Rio de Janeiro);

b) LP varia de R$ 47,14 (áreas rurais do Nordeste) a R$ 167,97 (Região Metropolitana de São Paulo).

O trabalho de Takagi, Graziano da Silva & Del Grossi utiliza também valores de referências regionalizados. O ponto de partida da metodologia definida por esses autores é a LP de U$ 1,00 por dia, utilizada pelo Banco Mundial. No entanto, foram introduzidas algumas adaptações importantes, como a imputação do autoconsumo das famílias rurais, a dedução de despesas com aluguel e prestação da casa própria e a regionalização dos custos de vida, considerando também as diferenças rural/urbano. Os valores estabelecidos como LP variam de R$ 62,29 (áreas rurais do Nordeste) a R$ 82,54 (Região Metropolitana de Salvador). Vale ressaltar que esse estudo foi elaborado como um subsídio ao Projeto Fome Zero do Instituto da Cidadania, lançado oficialmente pelo então candidato a presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva em Brasília no dia 16/10/2001. O Projeto Fome Zero encampou integralmente a metodologia proposta por esses autores para estimar os potenciais beneficiários desse programa.

A diferença nos resultados sintetizados na Tabela 1 se deve, portanto, à diferença dos métodos e valores usados para traçar as LP e LI. Note-se que a proporção de pobres é maior nos estudos de Paes de Barros e Rocha, que atribuem valores mais elevados para a LP adotada. Da mesma forma, devido ao valor da LP utilizada por Hoffmann, a sua estimativa da proporção de pobres fica mais próxima da proporção de indigentes calculada por outros autores. Os resultados apresentados por Takagi, Graziano da Silva & Del Grossi se situam abaixo da estimava apresentada por Rocha para o conjunto do país (27,6% contra 35%), devido à diferença dos critérios de regionalização da LP acima nas áreas rurais (46,1% contra 40,3%). Os autores esclarecem que o objetivo do estudo não é estimar com precisão as pessoas que "passam fome" – o que exigiria pesquisas mais abrangentes e refinadas –, mas estimar o público beneficiário do Projeto Fome Zero, que seriam todos aqueles que, por insuficiência de renda, estariam "vulneráveis à fome" (Takagi, Graziano da Silva & Del Grossi, 2001).

Cabe ressaltar que, apesar das diferenças metodológicas, todos os estudos, inclusive aqueles produzidos pelos órgãos governamentais, são unânimes em apontar a magnitude e seriedade do problema da fome e da pobreza no Brasil.

EVOLUÇÃO DA POBREZA NO BRASIL

A amplitude do problema da fome e da pobreza no Brasil pode ser mais bem compreendida a partir de uma série histórica mais longa, capaz de captar não só as oscilações conjunturais, mas também as tendências de longo prazo. Por esse motivo, optou-se por utilizar nesta seção a série de dados apresentada no trabalho de Paes de Barros et al., citado anteriormente.

A análise dos dados sobre pobreza e indigência nas últimas duas décadas mostra que a pobreza atingiu os níveis mais elevados no início dos anos 80, devido à crise e recessão do período, chegando a mais de 50% da população em 1983 e 1984. Em 1986, devido aos impactos do Plano Cruzado, os níveis de pobreza caem significativamente, chegando a 28%. Como se sabe, os efeitos desse plano foram bastante efêmeros, e, nos anos seguintes, até 1995, a pobreza voltou a crescer, se situando entre 40% e 45% da população. A partir do Plano Real a pobreza se estabiliza em torno de 34%.

Os próprios autores (Paes de Barros et al., 2001) observam que, apesar de se situar em novo patamar, esse nível de pobreza ainda é extremamente alto. Na verdade, se considerarmos todo o perío­do, veremos que a redução dos níveis de pobreza nos últimos vinte anos foi bastante modesta, de 40% em 1977 para 34% da população em 1999. A análise dos números absolutos revela que a lentidão desse processo não tem sido capaz sequer de acompanhar o crescimento populacional. O número de pessoas pobres passou de 41 milhões em 1977 para 53 milhões em 1999, um acréscimo de mais de 12 milhões de pobres na população total do país.

DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DA POBREZA E INDIGÊNCIA NO BRASIL

Apesar da diferença dos números, devido aos critérios adotados por cada autor, há uma tendência bastante clara em todos os estudos: a proporção de pobres e indigentes diminui nas áreas rurais e aumenta nas áreas urbanas.

Conforme mostrado anteriormente, os números apresentados no Projeto Fome Zero se situam um pouco abaixo das estimativas da pobreza (e muito acima da proporção de indigentes) calculadas por Rocha para o conjunto do país. Apesar disso, a proporção de pobres no meio rural estimada pelo Projeto Fome Zero é sempre maior do que em Rocha. De acordo com Takagi, Graziano da Silva & Del Grossi (2001), essas divergências nos resultados mostram que a metodologia proposta por eles foi mais eficiente em captar as diferenças de "custos de vida e hábitos alimentares entre as diferentes áreas de residência".

Mas deve-se observar que, apesar da pequena diminuição, a proporção de pobres e indigentes nas áreas rurais continua extremamente elevada. Em todos os estudos, a pobreza e a indigência no meio rural continuam, durante todo o período analisado, sendo proporcionalmente maiores do que nas áreas urbanas. Essa situação se repete em todas as regiões brasileiras, exceto no estudo de Rocha, no que se refere à estimativa de pobreza. Em todos os estudos a pobreza rural é proporcionalmente mais alta na Região Nordeste, variando de cerca de 50% (em Rocha e em Hoffmann) a 60% (Projeto Fome Zero) da população rural dessa região. Na Região Sul registraram-se os menores índices de pobreza rural, cerca de 22% em Rocha e em Hoffmann e de 28% segundo o Projeto Fome Zero. Na Região Norte as estimativas da pobreza rural variam de 38% (Projeto Fome Zero) a 45% (Hoffmann). No Centro-Oeste a pobreza atinge cerca de 34% da população rural (Rocha e Projeto Fome Zero). No Sudeste a proporção de pobres varia de 29% (Rocha) a 34% (Projeto Fome Zero).

Essa situação ganha uma conotação ainda mais estarrecedora se lembrarmos, como o faz José Ely da Veiga (2001), que a pobreza rural teima em persistir em níveis tão elevados mesmo após o brutal êxodo rural ocorrido nas últimas décadas.

Cabe ressaltar que até agora falou-se da pobreza em termos proporcionais. Se considerarmos os números absolutos fica evidente que o maior contingente de pobres está nas áreas urbanas. Como já foi dito anteriormente, é exatamente nessas áreas, especialmente nas regiões metropolitanas, que a pobreza e a indigência crescem mais. Apesar de estar presente em todos os estudos, essa tendência fica mais evidente no trabalho de Rocha, citada no Projeto Fome Zero (2001, p. 21). De acordo com essa autora, o agravamento da pobreza nas áreas metropolitanas está relacionado ao esgotamento dos efeitos redistributivos do Plano Real, já em meados de 1996, e aos ajustes econômicos desse período. O aumento da pobreza estaria mais diretamente ligado ao fechamento dos postos de trabalho de menor qualificação, acelerando o "processo de exclusão da mão-de-obra menos qualificada do mercado de trabalho".

CONCENTRAÇÃO DE RIQUEZAS: A CAUSA DA INSEGURANÇA

Conforme mostramos na seção “Fome e disponibilidade de alimentos”, as causas da fome no Brasil estão relacionadas à má distribuição e não à falta de alimentos. A incapacidade de acesso aos alimentos básicos e a outros bens e serviços necessários a uma qualidade de vida minimamente aceitável também não se deve, evidentemente, à insuficiência, mas à péssima distribuição de riquezas no país. Isso nos leva à conclusão óbvia de que as causas da pobreza no Brasil não devem ser buscadas nas flutuações de curto prazo da economia. Ao contrário são as causas estruturais que nos interessam: a desigualdade na distribuição de riquezas. Essa desigualdade se reveste de várias formas no país, mas basta aqui mencio­nar aquelas que determinam diretamente a falta de poder aquisitivo e acesso aos meios de produção:

a) concentração de terras. As raízes da concentração fundiária, por demais conhecida, remontam ao processo de ocupação territorial pelos colonizadores, iniciado com as capitanias hereditárias e consolidado pela Lei de Terras de 1850. A persistência ao longo dos séculos de um padrão de distribuição da propriedade da terra com níveis de desigualdade tão absurdamente elevados não pode ser, entretanto, explicada exclusivamente por esse particular processo de formação do latifúndio. Há que se somar a isso a histórica teimosia das elites brasileiras em não realizar uma verdadeira reforma agrária e o seu conseqüente desprezo pela agricultura familiar.

Uma breve análise dos dados Censo agropecuário de 1995/1996, do IBGE, é suficiente para ilustrar o exacerbado grau de polarização da nossa estrutura fundiária. Os estabelecimentos com menos de 10 hectares, cerca de 2,5 milhões de unidades que representam 50% do total de estabelecimentos, ocupam somente 2,2% da área total, a mesma área ocupada pelos 37 estabelecimentos com 100 mil hectares ou mais. Os estabelecimentos com menos de 100 hectares, 90% do total, ocupam 20% da área, enquanto os estabelecimentos com mais de 1.000 hectares, menos de 2% do total, ocupam 45% do total da área.

b) Concentração de rendas. A discussão sobre a desigualdade de renda terá como base os dados apresentados por Paes de Barros et al. (2001). O título do seu estudo, A estabilidade inaceitável: desigualdade e pobreza no Brasil, é bastante sugestivo e indica o sentido da exposição a seguir. Conforme mostrado na seção “Evolução da pobreza no Brasil”, a pobreza no Brasil, depois de uma pequena redução em meados dos anos 90, se estabilizou em um patamar ainda extremamente elevado.

Como já foi dito, essa persistência do fenômeno da pobreza não se deve a uma escassez de recursos. Uma rápida comparação com outros países pode ilustrar melhor essa questão. Comparando a renda per capita, o Brasil se situa entre o terço mais rico dos países do mundo, mas apesar disso apresenta níveis de pobreza (cerca de 30% da população) muito acima da média dos paí­ses com renda per capita similar (cerca de 10%). De acordo com Paes de Barros et al. (2001), "caso o grau de desigualdade de renda no Brasil correspondesse à desigualdade mundial média associada a cada nível de renda per capita, apenas 8% da população brasileira deveriam ser pobres".

Analisando as últimas duas décadas pode-se observar que a desigualdade de renda apresenta níveis assustadoramente estáveis. Durante quase todo o período a desigualdade, medida pelo coeficiente de Gini, se mantém com valor próximo de 0,60, sofrendo alterações somente no sentido ascendente. Esse nível de desigualdade só se verifica em outros três países: Guatemala, África do Sul e Malavi. Os dados mostram também que, em alguns anos, a renda dos 10% mais ricos chega a ser 30 vezes maior do que a renda dos 40% mais pobres. Considerando as rendas dos 20% mais ricos e dos 20% mais pobres, essa distância chega a 35 vezes.

O grau da desigualdade de rendas é tão profundo que permanece praticamente inalterado, mesmo quando a pobreza diminui em função de modificações na economia, como aquelas introduzidas por planos de estabilização. Segundo os autores citados, no que se refere ao Plano Real, por exemplo, os dados não demonstram que tenha havido "qualquer impacto significativo sobre a redução no grau de desigualdade, apesar de a pobreza ter sofrido uma redução importante" (Paes de Barros et al., 2001, p. 22).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A gravidade da situação de miséria de grande parte da população exige que se repudie com veemência as insistentes tentativas das elites em mistificar o problema. A sociedade brasileira não aceita mais os discursos demagógicos que buscam circunscrever a pobreza a situações e localidades específicas, para depois oferecer soluções eleitoreiras. Tal como o assistencialismo eleitoreiro deve ser rejeitado, também o economicismo tecnocrata, igualmente mistificador. Já está mais que evidenciado que o crescimento econômico, por mais importante que possa ser, é absolutamente insuficiente para se acabar com a pobreza no país. Da mesma forma, o equilíbrio macroeconômico e a estabilização da moeda produzem, no máximo, efeitos mitigadores e temporários.

Qualquer tentativa, minimamente séria, de atacar os problemas da fome e da pobreza deve considerar a sua causa mais profunda: a exacerbada concentração de riquezas no país. Esse diagnóstico aponta, necessariamente, para a urgência de um amplo processo de redistribuição da riqueza nacional. E essa não é, evidentemente, uma tarefa que possa ser "deixada" para o mercado. Ao contrário, a experiência internacional mostra que só se resolve o problema da pobreza e da desigualdade com a ação firme e planejada do Estado.

As políticas públicas de combate à fome e pobreza não devem, portanto, se restringir a "compensar" os efeitos de um modelo econômico concentrador. Deve-se romper com a artifi­­cial separação das chamadas "áreas" econômicas e sociais. Não se pode esperar que a "área" social resolva o problema da pobreza enquanto a política econômica continua a promover a exclusão. Ainda mais se considerarmos que o atual governo desarticulou as experiências que poderiam conduzir à verdadeira Política Nacional de Segurança Alimentar. Além disso, na ausência de um projeto social mais articulado, as políticas sociais do governo são concebidas de forma fragmentada e implementadas de forma desarticulada.

Acreditamos que as políticas de combate à fome e pobreza e a promoção da segurança alimentar devem ser pensadas como parte de um projeto alternativo de desenvolvimento, que tenha como eixo central a determinação de um crescente processo de inclusão social. Portanto, o combate à fome e pobreza implica necessariamente um amplo e sustentável processo de distribuição de riquezas, que, em linhas gerais, deve se traduzir em:

a) distribuição de renda. Políticas de geração de emprego e renda, recuperação do poder aquisitivo dos salários (especialmente do salário mínimo), programas de renda mínima etc.

b) reforma agrária. Aceleração do processo de reforma agrária (com assentamento de todas as famílias sem terra) e ampliação das políticas de apoio à agricultura familiar.

Acreditamos que esses devem ser os princípios orientadores da construção de um projeto de combate à fome e pobreza e de promoção da segurança alimentar. Tendo a diminuição das desigualdades como um princípio básico, e inegociável, pode-se partir para um amplo processo de discussão na sociedade visando identificar as políticas e os instrumentos mais adequados para se acabar de vez com a fome e miséria no país.

Referências

INSTITUTO CIDADANIA. Projeto Fome Zero: uma proposta de política de segurança alimentar para o Brasil (versão 3), 2001.

PAES DE BARROS, R; HENRIQUES, R.; MENDONÇA, R. A estabilidade inaceitável: desigualdade e pobreza no Brasil. Rio de Janeiro: Ipea, 2001. (Texto para Discussão, n. 800).

ROCHA, Sônia. Pobreza no Brasil: o que há de novo no limiar do século XXI? 2000. Mimeografado.

TAKAGI, Maya; GRAZIANO DA SILVA, José; DEL GROSSI, Mauro. Pobreza e fome: em busca de uma metodologia para quantificação do problema no Brasil. (Texto para discussão, n. 101). IE/UNICAMP. Mimeografado.

Autores
1Professor da Escola de Agronomia da UFG. tassol@uol.com.br
2Professor do Departamento de Sociologia da UCG

“Igreja a partir das bases”

“Igreja a partir das bases”
Dois modos diferentes de ser Igreja a partir das bases são apresentados nos artigos a seguir. São duas experiências diferentes, mas complementares, uma nas Américas: “Igrejas Orgânicas” estão ganhando aceitação entre os hispânicos, e outra em Milão: “Quando um padre se mobiliza realmente, os fiéis o seguem com alegria”
Vale conferir.


“Igrejas Orgânicas” estão ganhando aceitação entre os hispânicos

Um número significativo de hispânicos abandonou as suas igrejas tradicionais para aderir à chamada “igrejas orgânicas”, que normalmente se reúnem em casas particulares e em que não há nenhuma liderança formal.

“Uma grande porcentagem dos Latinos e Afro-americanos são atraídos para essas igrejas orgânicas não só nos E.U. mas também na América Latina”, disse à Efe Frank Viola, autor de vários livros sobre o que ele denominou de “reforma radical” da Igreja .

Viola, que este ano irá realizar uma conferência no México sobre o tema e tem trabalhado com grupos na América Latina, é o fundador da Present Testimony Ministry, com sede em Gainesville, Flórida.

Viola define igreja orgânica como “um grupo de gente que aprende junta a viver a vida divina: é uma comunidade onde todos se conhecem e todos participam.

“A Igreja orgânica é a igreja que encontramos nas páginas do Novo Testamento. A igreja nas casas é simplesmente um grupo de cristãos que se reunem em alguma. Não são a mesma coisa.

A maior parte desses grupos nas casas não são orgânicos, de maneira alguma”, disse ele.

A igreja orgânica também se conhece como igreja simples, igreja livre, igreja da sala de estar, confraternidades, ou comunidades eclesiais de base, dentre outros nomes.

Esta “volta às origens”, disse Viola, significa que é “igreja orgânica não é nova nem é uma novidade, já que sempre houve cristãos que se reuniram fora das estruturas eclesiásticas institucionais”.

Para Viola, as igrejas orgânicos oferecem uma alternativa para um milhão de adultos cristãos que a cada ano deixam as igrejas tradicionais nos E.U. e para os 1.700 pastores deste país que, cada mês, abandonam os ministérios.

Segundo as estatísticas do Grupo Barna, nos E.U. haveria pelo menos 30.000 grupos de igreja orgânica, e o número provavelmente chegaria a um milhão na América Latina.

Stan Perea, um membro da mesa diretora da Associação para a Educação Teológica Hispana (AETH), que reúne mais de 1.200 U. S. teólogos latinos nos EEUU, afirmou que os Latinos se sentem atraídos para as igrejas orgânicas porque essas pequenas igrejas “restauram o senso de pertença e de orientação “.

“É triste que as igrejas tradicionais já não ajudem as pessoas a se conectarem com a vida. E é ainda mais triste que nos E.U. as igrejas se dediquem a ensinar aos imigrantes como serem individualistas, até ao ponto de ficarmos totalmente desligados”, disse Teria, que desde 1986 dirige um ministério cristão, em Dever.

Em Deve, Banca Ortiz, uma imigrante mexicana que se descreve como “uma cristã de toda a vida”, participa, desde o ano passado de uma igreja orgânica que se reúne na casa de uma amiga.

“Não existem líderes. É bem informal. Todos falamos, cara a cara, com todos. Todos participamos, apesar de virmos de igrejas e de países diferentes. Nós nos reunimos para celebrar. É verdade que deixamos as igrejas tradicionais, mas não deixamos a nossa fé”, disse Blanca.

Estas reuniões são simples e permitem partilhar tanto a comida como “as bênçãos materiais e espirituais”. Além disso, as crianças estão presentes em quase todas as atividades “, para mostrar como eles são importantes para nós.”

Para Ortiz, a igreja orgânica tem outra grande vantagem. “Já não recebo constantes chamadas lembrando-me que tenho de ir à igreja. Ninguém chama ninguém, mas sempre estamos todos lá, porque a igreja não é um edifício, mas um grupo de pessoas com uma fé comum”, concluiu ela.

Por: Francisco Miraval Denver, March 9 (AFP)
Tradução: João Tavares

“Quando um padre se mobiliza realmente, os fiéis o seguem com alegria”

“Os fiéis leigos, precisamente porque são membros da Igreja, têm a vocação e a missão de anunciar o Evangelho: para essa atividade estão capacitados e comprometidos pelos sacramentos da iniciação cristã e pelos dons do Espírito Santo”. João Paulo II

MILÃO, sexta-feira, 19 de março de 2010 (ZENIT.org).- Do dia 26 a 30 de maio, a paróquia Santo Eustorgio de Milão, na Itália, acolherá sacerdotes e leigos de diversos continentes para um seminário internacional sobre as células paroquiais de evangelização.

Esse sistema introduzido na Europa há 22 anos está em grande expansão atualmente no mundo.
O seminário prestará especial atenção ao compromisso do organismo internacional de serviço ao sistema das células paroquiais de evangelização, na difusão desse método nos países mais distantes da África até a China.
A iniciativa também propõe um simpósio internacional para sacerdotes, dia 27 de maio, sobre o tema “O sacerdote na nova evangelização”, assim como uma formação específica para os líderes dessas células, nos dias 28 e 29 de maio.
O seminário é voltado para todos os que desejam descobrir o método do padre Pigi, pároco da paróquia de Santo Eustorgio e presidente do organismo internacional das células.
Um sistema que tem sede na Europa e deve ter sua “durabilidade garantida”, segundo palavras do decreto de reconhecimento enviado oficialmente pela Santa Sé em maio do ano passado.
Esse reconhecimento é por um serviço que ajuda cada sacerdote a devolver uma consciência missionária aos fiéis de sua paróquia.
Padre Pigi está convencido de que “quando um pároco se mobiliza realmente, os fiéis o seguem com entusiasmo”.
Em uma entrevista com ZENIT, recorda os objetivos dessas células e mostra como este método, adaptado à vida paroquial, não para de despejar graças sobre paróquias dos cinco continentes, “prova viva de sua fecundidade”.

– No que consiste o seminário? Quais serão os pontos especialmente abordados?
– Pe. Pigi: No próximo seminário teremos um tema geral que tratará o compromisso do Organismo internacional de serviço do sistema de células paroquiais de evangelização, referente à difusão de nosso método de evangelização nos países mais distantes da África até a China. Apresentaremos o método de evangelização de oikos, que é a marca que difere nossa proposta em termos de evangelização.
A evangelização de oikos consiste em evangelizar os que se encontram habitualmente em sua vida cotidiana: familiares, amigos, companheiros de trabalho, vizinhos: eles são destinatários do anúncio do amor de Deus.
É por isso que podemos dizer que todos estão convidados a proclamar Jesus, não somente os consagrados, sacerdotes ou missionários, mas sim todos, animados pela força de seu batismo, receberam o grande mandato de Jesus de anunciar o amor de Deus.
Mas nunca houve evangelização de oikos possível sem a oração, porque a evangelização passa pela ação do Espírito Santo. Nós somos apenas simples instrumentos em suas mãos.
A evangelização é antes de tudo um compromisso de oração: por isso, em nossa comunidade de Santo Eustorgio, e eu diria que em quase todas as comunidades nas que estão presentes as células, há adoração eucarística.
Durante esse seminário, falaremos da função do Espírito Santo, porque, como escreveu o Papa Paulo VI em sua exortação apostólica Evangelii Nuntiandi no n° 75, “O Espírito Santo é o agente principal da evangelização: é ele quem leva cada um para proclamar o Evangelho e que, no fundo da consciência, faz aceitar e compreender a Palavra de salvação”.
Temos de educar aos fiéis leigos e talvez também os sacerdotes para que tenham vínculos familiares com o Espírito Santo, abrindo suas ações de forma discreta e poderosa.
As células de evangelização visam a revitalizar a paróquia, que descobrirá então sua verdade identidade e favorecerá a vocação missionária de todos os crentes, como nos sugere Paulo VI na Evangelii Nuntiandi no n° 14.
“Evangelizar é, de fato, a graça e a vocação própria da Igreja, sua identidade mais profunda. Ela existe para evangelizar”. afirma.
E João Paulo II na Christifideles Laici, no n° 33: “Os fiéis leigos, precisamente porque são membros da Igreja, têm a vocação e a missão de anunciar o Evangelho: para essa atividade estão capacitados e comprometidos pelos sacramentos da iniciação cristã e pelos dons do Espírito Santo”.
Reconhecendo essa responsabilidade, os leigos vão ser o fermento que transformará a face da paróquia. Mas tudo isso não será possível se o sacerdote, por sua vez, não se abrir definitivamente e firmemente ao que dá singularidade ao seu serviço sacerdotal, ao que dá uma profunda unidade às milhares de ocupações solicitadas dele ao longo de sua vida: anunciar o Evangelho de Deus e formar leigos evangelizadores.
É transformando-se em uma paróquia viva e evangelizadora que a paróquia mudará de rosto.

– Para quem é dirigido esse seminário e, qual é o fio condutor com o do ano passado?
– Pe. Pigi: O seminário se dirige a todos os sacerdotes que desejam transformar sua paróquia e também descobrir novos caminhos de evangelização, seguindo os ensinamentos do Papa.
Esses sacerdotes irão acompanhar diversos leigos de sua comunidade de forma que esse pequeno grupo que se formará possa representar uma força motriz no interior da paróquia.
Este ano abordaremos mais especificamente a formação dos que estão convidados a serem os “líderes” desses pequenos grupos que são células.

– O método das células de evangelização fará 1 ano em maio que foi reconhecido pela Santa Sé. Esse reconhecimento teve impacto sobre seu crescimento nesse ano e sobre a percepção que alguns poderiam ter desse método de evangelização?
– Pe. Pigi: Claro, muitos preconceitos desapareceram porque esse reconhecimento oficial, que não havíamos pedido, mas que o Conselho Pontífico para os Leigos nos ofereceu, qualifica-nos no plano das atividades da Igreja universal como tal, garantindo a ortodoxia do método sobre a base dos resultados espirituais e de difusão obtidos até agora.
Esse reconhecimento, que expressa a vontade da Igreja de que continue esse método, confirma o catolicismo e a validade pastoral de uma proposta capaz de renovar profundamente, e de uma visão missionária, às comunidades paroquiais.

– Há novas paróquias que decidiram, desde então, recorrer a esse método?
– Pe. Pigi: Sim, vemos, de fato, que centenas, talvez milhares, de paróquias no mundo adotaram com êxito este método de evangelização através das células.
No Decreto de reconhecimento, está escrito: “Isso porque a comunidade paroquial é o tecido eclesial no qual se integra o conjunto do sistema das células. Seu desenvolvimento em diversos países através do mundo demonstra a validade desse método, que contribui com a resposta do convite do Papa João Paulo II a uma “nova evangelização, nova em seu ardor, seus métodos e suas expressões” (Discurso à IXI Assembleia do Conselho Episcopal Latino-Americano, 9 de março de 1983).
Desde a apresentação do Decreto de Reconhecimento, obtido em 29 de maio de 2009, surgiram novas iniciativas em diversos países do mundo. Muitas comunidades nos convidaram para apresentar esse método e muitos sacerdotes e leigos estão vindo conhecer nossa realidade.
Temos vivido uma experiência importante e significativa com as comunidades chinesas que, através de ouvir falar desse método de evangelização no âmbito paroquial, vieram participar do Seminário Internacional do ano passado.
Também temos visitado as comunidades paroquiais do Brasil e da Venezuela, onde a experiência das células paroquiais está produzindo outras centenas de células.
No mês de janeiro de 2010, se reuniram em Santo Eustorgio os promotores de área, como são chamados os que se ocupam das células presentes nas diferentes regiões geográficas ou linguísticas do mundo.
Essa reunião foi uma oportunidade para colocar, online, o website internacional de células, que representa uma boa ferramenta de evangelização. Seu endereço é www.cells-evangelization.org.
O encontro também ofereceu formação da equipe internacional encarregada da formação de líderes e co-líderes.
Além disso, nos permitiu saber como e com qual amplitude as células se propagam pelo mundo.
Hoje mesmo eu conheci o nascimento de 17 células em uma paróquia da Letônia e fiquei sabendo que trinta pessoas dessa paróquia participarão do próximo seminário de 26 a 30 de maio.

– Quais são os países mais adeptos dessa diferente maneira de vida na paróquia?
– Pe. Pigi: Na França, Bélgica, Irlanda, Itália, Brasil, Venezuela, países da Europa Oriental, entre outros.
Em suma, onde a paróquia tende a adormecer, as células podem representar uma ocasião para renovar os sacerdotes e os fiéis leigos.

Fonte: http://www.zenit.org/article-24397?l=portuguese

sexta-feira, 26 de março de 2010

Desintegração da família está custando 41 bilhões de libras ao governo inglês

Patrick B. Craine

CAMBRIDGE, Inglaterra, 9 de março de 2010 (Notícias Pró-Família) — A desintegração das famílias está agora custando ao governo inglês 41 bilhões de libras por ano, avaliou a Fundação Relacionamentos, um instituto com sede na Inglaterra.

“É uma verdade impopular que escolhas têm conseqüências e custos, os quais nem sempre são arcados por aqueles que fizeram as escolhas”, escrevem eles num relatório de fevereiro, intitulado “Counting the Cost of Family Failure” (Contando o Custo do Fracasso Familiar).

A estimativa da Fundação inclui 12.38 bilhões de libras em créditos de impostos e benefícios, 4.27 bilhões em auxílio-moradia e 13.68 em assistência social e saúde. Os autores relatam que sua estimativa sai em 1.350 por ano por contribuinte do imposto de renda.

“A desintegração reduz a saúde, os bens e o bem-estar — as três coisas nas quais as pessoas mais têm interesse”, continuam eles. “E saúde, bens e bem-estar reduzidos todos colocam pressões nos relacionamentos tornando o ciclo da desintegração mais provável de continuar voltando”.

Eles observam que “não há solução fácil ou de curto prazo para a desintegração dos relacionamentos”, mas insistem em que a atual sobrecarga de gastos é “insustentável”.

O custo está se elevando “rapidamente”, dizem os membros do instituto, que também frisam que os números “não levam em consideração o sofrimento e a dor muitas vezes intensa vividos por aqueles que passam pela experiência de fracasso familiar”. “Quando os relacionamentos se desintegram os custos totais são incalculáveis”, acrescentam eles.

“Famílias que funcionam são a chave para o aprendizado, para o desenvolvimento de habilidades, para a aquisição de conhecimentos profissionais e para o fornecimento de assistência”, declara o relatório do instituto. “Elas fornecem assistência e apoio social no valor de 73 bilhões por ano na Inglaterra, e os negócios de família geram um movimento de mais de 1 trilhão, contribuindo 73 bilhões por ano em impostos”.

“Os relacionamentos custam muito mais do que dinheiro, mas os crescentes custos financeiros e emocionais mais amplos deviam motivar os responsáveis pelas políticas públicas a aumentar seu apoio aos relacionamentos”, continuam eles.

Num artigo opinativo no jornal Daily Mail no final de janeiro, a colunista Melanie Phillips ligou a desintegração da família à erosão da instituição do casamento na sociedade britânica. “A desintegração da família é o centro da gradual desintegração da conduta moral e social — e a erosão do casamento é o centro dessa desintegração”, argumentou ela.

O “frágil estado” do casamento, disse ela, “é devido ao fato de que o casamento vem sendo sistematicamente esvaziado de seu sentido”. Ela insistiu em que o casamento precisa de proteções legais e culturais e depende da promoção da “fidelidade e castidade”, mas em vez disso, “por mais de cinco décadas, essas leis e costumes vêm sendo sistematicamente corroídos ou destruídos”.

Ela indicou de forma especial o aumento de divórcio sem condenação da parte culpada, a aceitação do sexo fora do casamento, a coabitação e o Estado incentivando a criação de crianças fora do matrimônio.

Neste sentido, os líderes pró-família também frisam que a promoção da educação sexual nas escolas e as uniões homossexuais por parte do governo britânico são as principais causas da degradação do casamento, bem como da prática desenfreada do aborto.

A Fundação Relacionamentos exorta os responsáveis pelas políticas públicas a “fazer escolhas informadas em termos de motivação pública, oportunidade e apoio que levarão a relacionamentos mais estáveis, vidas prósperas e assim reduzirão os custos dos fracassos nos relacionamentos”.

Veja o relatório “Counting the Cost of Family Failure”.

Veja a cobertura relacionada de LifeSiteNews.com:

Life and Family Activists Hold out Little Hope for Cameron-Led Conservative Government
http://www.lifesitenews.com/ldn/2010/jan/10012704.html

UK Minister Admits Failure to Bring Down Teen Pregnancy Rate: Solution? More Sex-Ed
http://www.lifesitenews.com/ldn/2010/feb/10022603.html

Traduzido por Julio Severo: www.juliosevero.com

Fonte: http://noticiasprofamilia.blogspot.com

Veja também este artigo original em inglês: http://www.lifesite.net/ldn/viewonsite.html?articleid=10031008

quarta-feira, 24 de março de 2010

Coréa do Norte

CORÉIA DO NORTE



NOME Coréia do Norte
POPULAÇÃO 22,6 Mil.
CAPITAL Pyongyang
GOVERNO Regime Ditatorial
VÍTIMAS 2 Milhões de
Mortos


Coréia do Norte - Criação

Q U I Z

Você sabe que o Kim Il Sung tem um avião
particular que viaja o mundo só para satisfazer
seus desejos particulares ?

É verdade. São vinhos, champangnes, caviar e
guloseimas para seu delite pessoal, enquanto mais
da metade (mais 50%) passam fome (desnutrição).

Fonte: Revista Veja (confira você)


A Republica Popular e Democratica da Coréia (RPDC) foi criada em 9 de setembro de 1948 na parte do país que se estende ao norte do Paralelo 38. Nos termos de um acordo assinado com os americanos em 1945, a URSS havia sido encarregada de administrar "provisoriamente" essa zona, enquanto os E.U.A administrariam a Coréia Meridional, ao sul do mesmo paralelo.
Muito rapidamente, a Coréia do Norte revelou-se como o Estado comunista mais fechado do mundo. As autoridades soviéticas depressa vedaram o acesso ao Norte a qualquer representante da comunidade internacional.
Esse isolamento iria acentuar-se ainda mais durante os dois primeiros anos de existência da RPDC.
Finalmente, a guerra do norte desencadeou em 25 de junho de 1950 - e que ainda não esta terminada, pois somente um armístico foi assinado, em 27 de julho de 1953, com as tropas da ONU - agravou o peso das mentiras, da desinformação e da propaganda, assim como a extenção a praticamente todos os aspectos da vida do país das áreas normalmente abrangidas pelo chamado segredo de Estado.
Todavia, não é só a guerra que esta em causa: a natureza intríseca do regime comunista norte-coreano, fechado sobre si próprio até mesmo em relação ao mundo comunista (com efeito, durante o conflito sino-soviético, o regime tergivesou todo o tempo, sem perder de uma forma clara ou duradoura para qualquer dos lados), e também o receio, um pouco na linha dos comunistas albaneses e cambojanos, de ver a influência do mundo corromper a "unidade ideologica do povo e do Partido", explicam que o Estado Norte-Coreano merece muito bem o nome que por vezes lhe é conferido, de "reino eremita". Além disso, esse autismo politico foi teorizado através da ideologia chamada do "Djutché", ou seja, do domínio de si próprio, da independência e até da auto-suficiência, ideologia qua passa a fazer oficialmente parte dos estatutos do Partido do Trabalho Coreano a aprtir do seu V Congresso, em novembro de 1970.
Nessas condições, e menos do que em qualquer outro lugar, não se pode ter a esperança de produzir informações globais e pormenorizadas acerca das realidades da repressão na Coréia do Norte, até porque nunca foi possivel constituir, nem no interior, nem no exterior do país, uma oposição ativa que pudesse, como aconteceu na URSS e nos países do Leste Europeu, recolher e difundir informações. Temos que nos contentar com os ecos oficias, que é preciso interpretar ou decifrar, com os testemunhos de fugitivos, em número crescente desde a alguns anos, é verdade, mas durante muito tempo pouco numerosos, com dados recolhidos pelos serviços de informação dos países vizinhos, muito particularmente pela Coréia do Sul. Dados que convém, evidentemente, manejar com precaução.

Antes da Constituição do Estado Comunista

O comunismo coreano não foi fundado por Kim II Sung, ao contrário do que afirmam as hagiografias que a população norte-coreana é obrigada a engolir desde a infância. O seu nascimento é mais antigo, uma vez que em 1919 existiam dois grupos que se reclamavam bolchevistas. Uma vez que Moscow não deu o seu aval imediato a nenhuma das suas facções, a luta entre ela foi feroz. As primeiras vítimas do comunismo coreano são, portanto, os próprios comunistas. Guerrilheiros antijaponeses do "PC Coreano pan-russo", conhecidos como "grupo Irkutsk", confrontaram-se de armas na mão com outros guerrilheiros de um grupo que fundara um "Parido Comunista Coreano" em julho de 1921. O caso fez várias centenas de mortos e obrigou o Komitern a sair da sua reserva e a tentar impor a unidade do movimento coreano.
Os comunistas coreanos estiveram frequentemente na linha de frente na luta contra os japoneses (recordemos que, em 1910, o Japão fez da Coréia uma colônia), e a ferocidade da repressão colonialista causou numerosas vítimas nas suas fileiras. No entanto, é difícil não atribuir aos próprios comunistas coreanos uma parte dos quadros formados no estrangeiro e a vontade possivelmente heróica - mas de consequencias catastroficas - de organizar manifestações em dias de importância simbólica, como o 1 de maio, devem ser postos em causa.
Kim Il Sung, simples comandante de uma unidade de guerilha antijaponesa nos confins da Manchuria, é escolhido pelos Sovieticos, em detrimento de comunistas que militavam no interior do país havia muito tempo. Em setembro de 1945, em Pyongyang, ocorreram diversos assassinatos de de quadros comunistas que se opõea Kim Il Sung, como Hyon Chun Hyok. Algumas dezenas ? Algumas centanas ? Ainda não se sabe.
Os nacionalistas, que em Pyongyang, nesse inverno de 1945-1946, ainda tinha direito de cidadania, foram também perseguidos e presos. Cho Man Sik, um dos líderes, foi perseguido, preso e executado.
A repressão exerce-se igualmente sobre a população. Nessa parte setentrional do país, os sovieticos forjam praticamente de alto a baixo um Estado à sua imagem: reforma agrária para abrir caminho a coletivização, partido único, enquadramento ideologico da população em associações de massa e etc.Qualquer adversário político, qualquer proprietário de terra, qualquer opositor à reforma agrária, qualquer cidadão suspeito de ter colaborado com os japoneses, é perseguido. No entanto, é difícil na conta do comunismo as vítimas de uma depuração que, provavelmente, não teria sido menos severa nas mãos dos dirigentes nacionalistas. Aliás, a implementação do regime, numa primeira fase, dá origem menos a um banho de sangue do que à fuga para Sul de centenas de milhares de pessoas pertencentes às camadas sociais à qual nos referimos acima, e todos aqueles que temiam por suas vidas e pelos seus bens. Embora o fechamento do Norte a organismos internacionais ou provenientes da zona sul se faça muito rapidamente, continua a ser fácil passar para o Sul, mais ou menos facilmente até 1948.

Vítimas da Luta Armada

Essa fuga, possivel durante os três primeiros anos de existência de um poder que ainda não se afirma como Estado, não significa que os dirigentes comunistas tenham renunciado a uma "comunização" geral da população da península. Consideravam, com efeito, como provável e próxima a unificação, em seu benefício, da Coréia. Os arquivos recentemente abertos em Moscou mostram um King II Sung impaciente por derrubar aqueles a quem eles chamam de "marionetes" dos americanos: As "marionetes" em questão tem um exercito muito mais fraco que o do Norte.
Kim Il Sung insiste, pois, junto a Stalin, que dá finalmente luz verde no fim do inverno de 1949-1950. Em 25 de de junho de 1950, ocorre a premeditada invasão. As tropas norte-coreanas invadem o sul de surpresa. É o inicio de uma guerra terrível que fará mais de meio millhão de mortos, na totalidade da população Corena, sendo 400.000 mortos e um pouco mais de feridos entre os chineses vindos em socorro aos norte-coreanos quando se veêm ameaçados de uma derrota total face as tropas da ONU comandadas pelo general MacArthur, pelo menos 200.000 mortos entre os soldados norte-coreanos, 50.000 entre os sul-coreanos, mais 50.000 americanos, além de milhões de desabrigados. O batalhão francês contara com 300 mortos e 800 feridos.
Raras são as guerras cuja origem está tão obviamente ligada à vontade comunista de expandir - para o bem do povo - a sua zona de influência...Na época, numeros intelectuais franceses de esquerda - Jean Paul Satre, por exemplo - apoiaram a posição comunista, fazendo da Coréia do Sul o agressor de um país pacífico. Hoje, principalmente graças aos estudos dos arquivos à nossa disposição, já não se permite a dúvida: esses sofrimentos e outros, como os que suportaram os prisioneiros (6000 soldados americanos e quase outros tantos proveninentes de outros países, na maior parte sul-coreano, morreram na prisão) ou como o calvário do pessoal diplomático francês e inglês que ficou em Seul, preso e depois deportado pelas tropas norte-coreanas os dos missionários que trabalhavam na Coréia do Sul, igualmente deportados, devem ser postos na conta do Comunismo.

Terrorismo após a Guerra da Coréia

Sabemos que acabo de três anos de guerra foi assinado, em julho de 1953, uma armistico que estabelecia uma zona desmilitarizada entre as duas Coréias, mais ou menos sobre a linha de partida do conflito, ou seja, o Paralelo 38. Um armístico, e não paz. A continuação de incursões e ataques por parte da Coréia do Norte causou numerosas vítimas. Entre os golpes desferidos pelo Norte contra o Sul e que visaram tanto civis como militares, podemos citar o ataque, em 1968, por um comando de 31 homens, ao palácio presidencial sul-coreano (um único sobrevivente entre os assaltantes), o atentado de Rangoon, na Birmânia, dirigido em 9 de outubro de 1983 contra sul-coreanos - ou a expliosão, em pleno vôo, de um avião da Koreia Air Line, en 29 de novembro de 1987, com 115 pessoas a bordo.
A Coréia do Norte não é suspeirta, é culpada. Uma terrorista










CORÉIA DO SUL
CORÉIA DO NORTE

82% dos jovens nas Universidades.

Renda Per capita de U$ 17.900

País obcecado por educação. Todas as salas são equipadas com telão de Plasma. Laboratórios de computação com máquinas de última geração ligadas a Internet.

65% das escolas com piscina olimpica.

85% dos domicilios tem acesso a Internet.

O salário médio de um professor do ensino fundamental é de US$ 6.000 (R$16.200), 6x mais que o Brasileiro e infinitamente superior ao vizinho comunista.

Curiosidades:

Numa pesquisa feita pela Universidade Nacional de Seul, chegou a uma conclusão interessante: Na Coréia do Sul, o professor é visto como "o melhor partido para se casar".
















Fonte Revista Veja
(edição:1892, 16/02/2005)
50% das Crianças com menos de 5 anos
sofre de desnutrição. 10 mil crianças
morrem por mês, segundo fontes da Cruz Vermelha Alemã.
Renda per capita de U$ 760
6 vezes menor que a brasileira.

Kim serve comida francesa em festas
suntuosas.

O País é totalmente isolado do mundo.
Internet é crime e pode dar cadeia. Fotografias
não são permitidas e devem ser autorizadas por
autoridades.

Destina 30% do já parco produto interno
bruto a gastos militares. O dinheiro dá
sustento ao 4 maior exército do mundo
(1,2 milhão de soldados).

Financiou a construção de 10 misseis de
longo alcance, capaz de levar bomba
atômica até a ilha do Havaí.

Coréia do Norte é hoje um país
dependente de ajuda externa,
sobretudo em alimentos.
Os "imperialistas" enviam milhões
de toneladas em cereais de ajuda
humanitária as vítimas da fome.
Se não existisse essa ajuda do
mundo "burguês" a população
norte-coreana sofreria fome de
consequencias terríveis.

Bizzarices:

Fanático por filmes norte-americanos.
Mandou sequestrar um casal cineasta
sul-coreano para que o casal lhes
ensinasse a escrever e dirigir filmes.

Mantém um avião com a missão exclusiva
de buscar produtos importados,
como vinhos franceses e guloseimas
para seu uso privativo.

Fonte: Revista Veja
(edição:1892, 16/02/2005)




WEB SITES SOBRE A
CORÉIA DO NORTE: NOTÍCIAS DA
CORÉIA DO NORTE
AntiKorea.Com

Aliança para os Direitos
Humanos na Coréia do Norte

North Korea Special
Collection

Guia de Bombas da
Coréia do Norte

Coréia do Norte e Bombas
de destruição em Massa

Míssel Balistico
Taipe oDong II
Jornalista Brasileiro em "visita"
a Coréia do Norte

Bizaro reinado do eremita (Time)

Fotos da guerra da Coréia
(The Guardian)

segunda-feira, 15 de março de 2010

Bio Brazil Fair 2010

MDA seleciona empreendimentos e redes para a Bio Brazil Fair 2010

15/03/2010 16:44


Está aberta a Chamada para Seleção de Empreendimentos e/ou Redes de Empreendimentos interessados em participar da Bio Brazil Fair 2010 - VI Feira Internacional de Produtos Orgânicos e Agroecologia, evento que se realiza de 20 a 23 de maio, em São Paulo.

O Ministério do Desenvolvimento Agrário(MDA) irá selecionar 12 empreendimentos e/ou redes da agricultura familiar para expor e comercializar seus produtos no estande coletivo do ministério. As inscrições para participar da seleção vão até 4 de abril. A chamada e o questionário estão disponíveis no site http://www.mda.gov.br/portal/saf/programas/agroindustrias.

Para a seleção será exigida que a produção seja orgânica, de acordo com critérios da Lei 10.831, de 23 de dezembro de 2003 e que, preferencialmente, seja composta de produtos da sociobiodiversidade como frutas nativas (açaí, umbu, cagaita, cupuaçu, mangaba, araçá, maracujá da caatinga), castanhas (do-brasil, baru), erva mate, entre outros. Além disso, todos os produtos devem apresentar bom nível de apresentação para o mercado, potencial de oferta com regularidade e constância, embalagem e rótulo próprios, registros necessários e informações básicas exigidas por lei.

Os empreendimentos da agricultura familiar devem estar enquadrados nos critérios de aptidão ao Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) e atuar ou ter condições de atuar em mercados: regional e/ou nacional e/ou internacional.

A Bio Brazil Fair é uma feira de promoção, divulgação e comercialização de produtos orgânicos. Ao longo dos quatro dias são realizadas atividades relacionadas à agroecologia, alimentação natural, saúde e bem-estar. A feira permite a venda direta de produtos aos visitantes e compradores e possui momentos específicos para rodadas de negócios.

Fonte: http://www.mda.gov.br/portal/noticias/item?item_id=3825130

domingo, 14 de março de 2010

O Milagre da Multiplicação dos Pães e o Sinal do Profeta Jonas

*Paulo Roriz Scremin



É bastante comum nos depararmos com pessoas que oferecem grande resistência aos ensinamentos do Reverendo Moon, utilizando-se de uma alegação já bastante antiga: “Se o Reverendo Moon é um homem de Deus, como vocês dizem, mostre-nos os seus milagres”! De fato, levando-se em conta o atual estagio de degradação das religiões, somente um verdadeiro milagre fará com que as pessoas voltem a ter o antigo fervor religioso.



Há dois mil anos atrás, Jesus Cristo deparou-se com este mesmo tipo de problema. Ele nasceu com a missão de construir o Reino de Deus, tanto na terra como no céu, e evidentemente precisava receber total apoio das pessoas da sua época. Mas infelizmente os acontecimentos em torno da sua vida foram bem outros, a começar do seu nascimento. De acordo com Lucas, Maria ficou por três meses na casa de sua prima Izabel, esposa do grande sacerdote Zacarias. Pelos escritos de Lucas podemos concluir que a gravidez de Maria pareceu bem aos olhos de Izabel, que se sentiu honrada com a visita da prima. Mas três meses depois Maria deixou aquela casa, iniciando um curso de vida imensamente doloroso, que acabou levando Jesus a nascer em um estábulo, com as condições mínimas de sobrevivência. Onde estavam Izabel e Zacarias naquele momento? Por que não continuaram apoiando a jovem Maria? Os Evangelhos não falam mais nada acerca destes dois personagens... Como os políticos e os “pacifistas” de hoje, falaram bonito, mas nada fizeram para apoiar o seu Senhor.



Maria passou a viver ao lado de José, que não era o pai de Jesus, mas que a amava com grande paixão. Podemos deduzir que algumas vezes José tentou saber, através de Maria, quem era o pai daquele menino. Afinal de contas, naquele tempo José ainda não era um santo católico – era apenas um judeu bondoso, e por mais bondoso que fosse, não era de ferro... Alem disso, embora a tradição afirme o contrário, os Evangelhos nos revelam que Maria teve vários outros filhos com José (Marcos 3.21,31-35; João 7.5). Um deles, de nome Tiago, tornou-se um cristão após a morte de Jesus e chegou a ocupar lugar de destaque na Igreja cristã de Jerusalém (Gálatas 1.19). Desta forma, Jesus ocupava, na família de José, a posição de um “filho de pai desconhecido”, sendo o motivo de prováveis desentendimentos entre sua mãe e o pai adotivo.



É bastante conhecido o fato de que Jesus, com apenas doze anos de idade, acabou ficando sozinho em Jerusalém, após as festividades da páscoa (Lucas 2.41-52). Encontrado após três dias, o menino estava no templo, conversando com os doutores. Ao ler-se esta história, é comum enfatizar-se as palavras do menino Jesus, afirmando que “tratava dos negócios de seu Pai”. Mas isto não justifica a desatenção dos pais para com ele. Afinal de contas, deixar um menino de 12 anos para trás, sem saber onde e com quem ficou, é no mínimo uma santa irresponsabilidade... Mais tarde Jesus demonstrou o seu descontentamento com as atitudes de sua família, deixando de atender a um chamado de sua mãe e irmãos (Marcos 3.31-35), tornando claro para seus seguidores que os seus “verdadeiros familiares” eram aqueles que faziam a vontade de Deus. Afinal de contas, nenhum dos seus parentes procurou ouvi-lo (João 7.5); ao contrário, achavam que ele estava louco! (Marcos 3.21). Já nas bodas de Canaã a frase: “mulher, que tenho eu contigo?” (João 2.4) soa dura demais aos nossos ouvidos, principalmente se proferida por um filho como Jesus. Só poderá ser compreendida se considerarmos a existência de algo bastante inconveniente na atitude de Maria.



Não se tem conhecimento de como transcorreu a vida de Jesus entre os 12 e 30 anos de idade. Pode-se concluir, no entanto, que não deve ter sido muito fácil. Ao iniciar sua missão pública, aos trinta anos, Jesus foi ao encontro de seu primo-irmão, João Batista, bastante conhecido e respeitado por muitos. Esperava contar com o apoio de João para levar a cabo a sua formidável missão. Afinal de contas, desde o seu nascimento ele estava prometido para ser o profeta do Altíssimo, e ir “ante a face do Senhor, a preparar os seus caminhos” (Lucas 1.76). Sabemos, no entanto, que João deu testemunho de Jesus como “o filho de Deus”, capaz de tirar o pecado do mundo, mas parou por aí. Não foi suficientemente humilde para ouvi-lo, e muito menos apoiá-lo. Ao contrário, João Batista continuou batizando “do outro lado do rio Jordão”, pregando a vinda do Cristo, como se nada tivesse ocorrido. Havia um “grande rio” separando os judeus dos cananeus, Jesus de João Batista!



Jesus procurou os líderes fariseus, mas foi completamente rejeitado. Passou, então, a pregar nas Sinagogas, mas logo foi ameaçado pelos líderes e obrigado a afastar-se. Dirigiu-se, então, para a orla marítima da Galiléia, na tentativa de encontrar alguém que quisesse ouvi-lo. Lá, entre os humildes pescadores, encontrou os irmãos Pedro e André, e os filhos de Zebedeu, Tiago e João. Com eles Jesus dirigiu-se a Cafernaum, para ensinar. Vendo que Jesus tinha poder para repreender os maus espíritos e efetuar curas, uma multidão de enfermos e endemoninhados se acercou dele, obrigando-o a fugir. Afinal de contas, a sua missão principal era ensinar a Palavra de Deus (Marcos 1.32-39).



O próximo discípulo a se unir ao grupo de Jesus foi Levi, também chamado Mateus, o cobrador de impostos. Com este pequeno grupo Jesus ampliou o seu trabalho de divulgação do Evangelho, e uma grande multidão começou a reunir-se em torno deles. A maioria era constituída de indivíduos que pouco tinham a dar para a construção do Reino de Deus. Estavam mais interessados nas curas espirituais e na expulsão dos demônios do que em ouvir as Palavras de Deus. Outros vinham apenas por causa do pequeno lanche que às vezes era distribuído. Alguns, dos fariseus, eram inimigos mesmo, e estavam ali para investigar o que Jesus fazia (Marcos 3.20-23).



Embora Jesus e os seus cinco primeiros discípulos estivessem trabalhando duro, poucos eram aqueles que efetivamente se mostravam interessados em apoiar o seu trabalho. Mais de cinco mil pessoas já haviam ouvido as palavras de Jesus e o grande milagre da multiplicação dos pães já havia ocorrido, mas o grupo de discípulos continuava pequeno. Naquele momento eram apenas doze, que pregavam o evangelho, faziam curas e expulsavam demônios. Jesus reuniu-os a sós, num lugar deserto, para que repousassem um pouco. “Porque havia muitos que iam e vinham, e não tinham tempo para comer” (Marcos 6.30-31).



Os discípulos de Jesus estavam cansados e bastante contrariados, com o coração endurecido, lamentando por demais o insucesso em suas atividades. Afinal de contas, tanto trabalho para tão pouco! Milhares de pessoas ouviram as Palavras de Deus, mas quantos estavam ali, com Jesus? Somente doze! Era, de fato, entristecedor.



Jesus procurou, então, consolar os seus discípulos. Afinal de contas, eles não haviam compreendido o “milagre dos pães”, e estavam magoados (Marcos 6.52).



Jesus era o “Pão que desceu do céu”, levedado pelo bom fermento, e todos precisavam comer deste pão. Mas Jesus era um homem, nascido na terra, filho de Maria. Do céu eram o seu espírito e as suas palavras. Assim, o alimento especial que Jesus tinha para dar não era o pão terreno, que alimenta o corpo físico, mas a Palavra de Deus, o pão do céu, que alimenta a alma. Este era o pão que Jesus queria multiplicar. E isto Ele procurou fazer desde o primeiro instante de sua missão.



Aqueles que experimentaram do pão divino, e efetivamente apreciaram, começaram a se unir a Jesus. Pedro, André, Tiago, João e Levi foram os cinco primeiros discípulos. Foram os primeiros a apreciar o pão do céu, e receberam a incumbência de multiplicá-lo. De casa em casa, nas praças, diante das multidões, eles procuraram multiplicar a Palavra de Deus, o pão do céu, sob o comando e bênção de Jesus Cristo. Na parábola da multiplicação dos pães, vemos que Jesus pergunta: Quantos pães tendes? Eles já sabiam quantos havia, e responderam: cinco pães e dois peixes! Ora, se Jesus era o pão que desceu do céu, porque falava as Palavras de Deus, os discípulos, que multiplicavam as suas palavras, não eram outra coisa senão “pedras transformadas em pães”, pelas palavras e amor de Jesus. De fato, os cinco pães representavam os cinco discípulos que Jesus abençoou e deu para a multidão, para que o ajudassem a distribuir o pão, não o pão de trigo, que endurece e azeda, mas a Palavra de Deus, que ressuscita e traz alegria! Os peixes são dois cristãos neófitos, que ajudaram os discípulos na empreitada.



Após muito tempo de atividade, poucos haviam se unido ao grupo. Afinal de contas, “o vento era contrário, e as ondas do mar eram assustadoras”, e aqueles pobres pequeninos muito pouco puderam fazer. A doutrina dos fariseus estava impregnada em todas as mentes e corações, soprando ventos contrários à Palavra de Deus. Embora muitas curas tivessem sido operadas, os fariseus insistiam em pedir a Jesus um sinal do céu (Marcos 8.11). Ora, se a multiplicação de pães fosse literal, com a produção de mais de cinco mil pães de trigo, não teria sido isto um grande sinal? Por que os fariseus pediam, ainda, um sinal do céu? Porque a multiplicação de pães de trigo só existiu na parábola, assim como a serpente falante e o fruto proibido só existem nas narrativas simbólicas do livro de Gênesis.



Após a multiplicação dos pães, todos comeram e ficaram saciados. E sobraram doze cestos cheios de pães (Marcos 6.41-44). Para os tradicionais leitores da Bíblia, acostumados a interpretar a parábola como um milagre, a multiplicação foi tão eficiente que, pasmem, sobraram doze cestos cheios de pães!



Para Jesus, no entanto, as coisas não foram tão bem assim. Percebendo a tristeza no coração de seus discípulos, disse-lhes: “Guardai-vos do fermento dos farizeus e do fermento de Herodes” (Marcos 8.15). De fato, os seus discípulos eram pessoas muitos simples, ainda fracas na fé, e sentiam grande dificuldade para enfrentar os poderosos fariseus e suas doutrinas. Muitas vezes ficaram confusos diante das palavras daqueles líderes, e vieram a Jesus, pedir explicações (Mateus 17.10). Concluíram, então, que a falta de êxito em sua missão devia-se ao pouco conhecimento que tinham da Palavra de Deus, e sentiram-se desanimados em continuar. Simbolicamente isto foi representado pela “falta de pão”. Percebendo isto, Jesus perguntou:



“Para que arrazoais que não tendes pão? Não compreendestes ainda? Tendes ainda o vosso coração endurecido? Tendo olhos, não vedes, e tendo ouvidos não ouvis, e não vos lembrais? Quando parti os cinco pães entre os cinco mil, quantos cestos cheios de pedaços levantastes? Disseram-lhe: doze.” (Marcos 8.17-19)



“Como não compreendestes que não vos falei a respeito do pão, mas que vos guardásseis do fermento dos fariseus e saduceus? Então compreenderam que não dissera que se guardassem do fermento do pão, mas da doutrina dos fariseus” (Mateus 16.11-12).



Embora os discípulos tivessem divulgado a boa doutrina (o fermento de Jesus), os farizeus representavam um grande empecilho à conquista de novos discípulos (multiplicação dos pães), posto que suas doutrinas (fermento dos farizeus) eram totalmente opostas aos ensinamentos de Jesus. Os cinco pães haviam sido partidos por Jesus entre cinco mil pessoas, mas foram levantados apenas doze cestos! Em outras palavras, mais de cinco mil pessoas ouviram a Palavra de Deus, que Jesus trouxe, transmitida pelos cinco primeiros discípulos, e no final apenas doze pessoas permaneceram ao lado do mestre! A causa de todo esse insucesso estava na doutrina dos farizeus, o mau fermento, que impedia que as pessoas aceitassem o Evangelho de Jesus. Assim como o vinho novo (novas palavras de Jesus) deve ser colocado em odres novos (pessoas ressuscitadas, pessoas de fé), o pão multiplicado (evangelho de Jesus) deveria ser colocado em muitos cestos (pessoas que aceitassem o Evangelho e se tornassem verdadeiros discípulos de Jesus). Mas Jesus acabou morrendo numa cruz, negado até mesmo pelo líder dos discípulos.



Voltando à pergunta mencionada no início do texto, eu, e não o Reverendo Moon, parafraseando Jesus, respondo: “Uma geração má e adúltera pede um sinal, e nenhum sinal lhe será dado, senão o sinal do profeta Jonas”. E qual foi o grande sinal do profeta Jonas? Será que Jonas foi importante por causa dos três dias que ficou no ventre de uma baleia? (Mateus 12.40). Para quem se atém à letra e aos símbolos, sim. Para Jesus, o grande sinal do profeta Jonas foi o fato dele ter conquistado Nínive em apenas quarenta dias, levando todo o povo e seus governantes ao arrependimento! (Mateus 12. 41). Isto foi um grande milagre!



O Reverendo Moon iniciou o seu trabalho de pregação de uma nova mensagem inspirada por Deus em 1945, na Coréia. Apesar de todos os obstáculos criados pelos comunistas ateus e líderes religiosos incrédulos, o Princípio Divino, ensinado pelo Reverendo Moon, atingiu todas as nações do mundo. Em 1960 ele estabeleceu o Matrimônio Sagrado dos Verdadeiros Pais e de lá para cá vem incentivando a formação de Famílias Verdadeiras sob a Bênção de Deus. Estas novas famílias juraram um comprometimento absoluto com o Amor Verdadeiro, comprometendo-se a banir o adultério e o sexo livre de suas vidas e a trabalhar duramente para que este ideal seja estabelecido em toda a terra, pela formação de um número cada vez maior de Famílias Verdadeiras. E o “milagre da multiplicação das Famílias Verdadeiras” é hoje um fato mundialmente conhecido. Se o sinal do profeta Jonas, que conquistou a “grande” cidade de Nínive, com mais de 120 mil homens, impressionou Jesus, que diria Ele do Reverendo Moon, que já conquistou mais de 430 milhões de casais no mundo inteiro, levando-os a participar da cerimônia de Bênção do Matrimônio Sagrado? Não é isto um grande sinal de Deus e o maior dos milagres?



O reverendo Moon e sua esposa têm viajado pelo mundo inteiro, promovendo encontros de re-avivamento espiritual e incentivando os jovens e os casais já formados a receberem a Bênção de Deus através do Matrimônio Sagrado. As pessoas de bem, especialmente os bons líderes religiosos, devem procurar compreender a grandiosidade do trabalho que o Reverendo Moon tem realizado, unindo-se a ele na conquista de resultados cada vez maiores na direção da Providência de Deus. Convém lembrar que foram os líderes religiosos e não os ladrões, nem as prostitutas, os maiores empecilhos para a divulgação das Palavras de Jesus Cristo.



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* O autor é engenheiro civil (Universidade Federal do Paraná) e licenciado em matemática (Universidade Católica do Paraná).

Nova pobreza é um dos efeitos da globalização

Nova pobreza é um dos efeitos da globalização

Jacqueline Lopes




Dentro da ordem social globalizada, o retrato da pobreza não pode se limitar aos mendicantes, desamparados, miseráveis, moradores de rua, favelados etc. O novo pobre hoje pode ser um ex-executivo endividado e desempregado, uma família vitimada pelos desastres ambientais, desabrigados pelos alagamentos, um herdeiro que perdeu o patrimônio, um sonegador de impostos que foi autuado pela Receita Federal, e além dos milhares de pessoas que sobrevivem com baixos salários em territórios de exclusão e possuem contratos de trabalho precários ou se encontram na informalidade e que precisam de uma assistência, benefício ou renda da política social. (Jacy Curado)


Pouco é dito sobre o outro lado da globalização. Em entrevista especial ao Midiamax, a professora Jacy Corrêa Curado discorre sobre a nova pobreza e os aspectos psicológicos, como a autoestima, que envolvem a sociedade atual.

Jacy Curado é psicóloga social, doutoranda em Psicologia Social (PUC/SP) mestra em Psicologia (UCDB) e Master of Arts in Gender and Development pelo Institute of Social Studies ( ISS/ Netherlands), especialista e titulada em Psicologia Social pelo CFP Conselho Federal de Psicologia (CFP) e em Metodologia de Pesquisa em Gênero (IMS/UERJ/ FIOCRUZ).

Segundo ela, ainda há muito atraso. “(...) particularmente dos políticos do poder executivo que fazem um discurso economicista de modelo de desenvolvimento, pois poderiam incorporar, por exemplo, os debates recentes sobre questão da liberdade e da felicidade enquanto forma de desenvolvimento e não é somente ficar noticiando a criação de indústrias para criar empregos às vezes insustentáveis”.

A especialista atua como assessora em gênero de políticas públicas sociais. É professora de Psicologia Social e Comunitária e supervisora do estágio ‘COMUNIDADES’ da Universidade Católica Dom Bosco. É autora e organizadora do livro “Gênero e Políticas Públicas: a construção de uma experiência de formação” e “ Gênero e os sentidos do trabalho social” (UCDB,2008).

Eis a entrevista:

Midiamax - Professora, quando falamos de pobreza nos vem logo em mente a questão da desigualdade social. Uma pessoa que não tem as novas tecnologias e mora em área quilombola, por exemplo, longe do consumismo e com fartura de alimentos, pode ser chamada de pobre? Essa pessoa pode ser comparada com a outra, que mora em favela na área urbana e enfrenta restrições alimentares?

Jacy Curado - A pobreza é sempre relacional, e por isso pode ser comparada. O indiano economista Amartya Sen - Nobel de Economia - justamente ampliou o conceito de pobreza comparando um negro africano à um norte americano com mesmo rendimento e descreveu que eles possuíam percepções bastantes distintas de sua condição social. Assim questionou-se a 'renda' como único critério de identificação e medição da pobreza, apontando para seu caráter multidimensional, incluindo a dimensão subjetiva. Com isso não quero dizer que a pobreza seja subjetiva, mas sim que esse componente assim como outros devem ser considerados, como por exemplo, o pertencimento a rede social, acesso a serviços, poder político, prestígio e status social etc.

Nesse caso, das comunidades quilombolas, que particularmente conheço bastante, dependendo do critério de classificação podem ou não ser considerados como pobres, mesmo sendo proprietários de terra, de suas casas e possuírem fortes vínculos familiares com sua cultura étnica preservada e das mulheres gozarem de uma alta auto-estima, por não conviverem na comunidade em situação de racismo. Se o único critério for a renda, podem sim ser considerados pobres diante de tantas outras riquezas que os moradores urbanos não são mais portadores apesar de possuírem as vezes uma maior renda.

Midiamax - Em época de globalização, o que é chamado de nova pobreza?

Jacy Curado - A nova pobreza é um dos efeitos da Globalização e esta situada no marco do neoliberalismo, da desregulamentação da proteção social e da precarização do trabalho. É um fato novo que foi registrado nos anos 1980 e 1990, a partir de quando milhões de pessoas, que viviam próximo ou acima da linha de pobreza, caíram de nível socioeconômico. Trata-se de um fenômeno que assume padrões, características e sentidos dos mais variados, impactando, diferentemente do passado grupos e pessoas que nunca tinham vivenciado o estado de pobreza, cujo traço comum é o declínio nos níveis de renda, com considerável deterioração nos padrões de vida. Serge Paugam, um estudioso da área aponta que esse processo não diz respeito somente às famílias dos países em desenvolvimento, mas atinge pessoas que nunca viveram em condições miseráveis durante a infância ou habitaram cortiços e favelas, mas que se encontram em situação de afastamento da vida social, passando por crise de identidade, problemas de saúde e, em muitos casos, ruptura familiar. Dentro dessa nova ordem social, o retrato da pobreza não pode se limitar aos mendicantes, desamparados, miseráveis, moradores de rua, favelados etc. Os novos pobres seriam os supranumerários, os desfiliados, os que teriam um deficit de integração, como nomeia um dos principais estudiosos da questão social, o sociólogo Robert Castel.

Midiamax - Quais os mecanismos de políticas públicas que podem socorrer o 'novo pobre' diante do fato de que muitos deles devem impostos para o Estado?

Jacy Curado - As políticas de enfrentamento à pobreza são seculares, pois o primeiro grande marco de ação publica data o Séc. XVII, quando Rainha Elisabeth I institui a Poor Law ACT (Ato da Lei dos Pobres) em 1601, que provê alivio financeiro para crianças e deficientes. A partir daí houve muitas mudanças, pois essas leis foram banidas após a revolução Industrial, em que à proteção social centrou-se no trabalho-trabalhador. Somente no final do século XXI a pobreza foi ressignificada em decorrência de um quadro de sociabilidades flutuantes e desestabilizadas que fez com que a assumisse caráter prioritário no âmbito das políticas públicas, configurando a metamorfose da questão social ou reconversão da pobreza.

E para essa situação criou-se a políticas de caráter focalizado, tendo o pobre como um grupo social vulnerável. Para operacionalização dessa proposta precisa-se de uma tecnificação da política social, que deve ser baseada em uma minuciosa e eficiente avaliação da racionalidade instrumental da ‘Gestão da Pobreza’ que irá eleger os critérios de contingenciamento dos recursos públicos e as demandas sociais que serão assistidas. Nesse sentido, o novo pobre pode ficar de fora dos benefícios sociais, ainda mais em um país como o Brasil que somente agora esta enfrentando o que chamamos de pobreza absoluta.

Midiamax - O que é pobreza absoluta ?

Jacy Curado - Pobreza absoluta é o limiar de renda abaixo do qual é considerado capaz de proporcionar um consumo suficiente para as pessoas, fala-se em 'mínimo vital' e limiar de subsistência, de orçamento padrão e necessidades elementares. Já na pobreza relativa, fala-se em um leque de renda, de hierarquia dos salários, de disparidades de acesso aos bens coletivos, coeficientes de desigualdade de distribuição de renda. Por exemplo no Brasil, quando noticiam a redução dos índices de pobreza, estão se referindo a pobreza absoluta, que esta sendo enfrentada pelas políticas publicas atuais de transferência de renda.


Midiamax - Por que as políticas de compensação [Bolsa Família, por exemplo,] - alvo de criticas por alguns que consideram assistencialismo - são primordiais para as famílias pobres?

Jacy Curado – O contexto de globalização demandapor um novo desenho nas políticas sociais, e é ai que se insere a proposta de transferência de renda, diga-se de passagem, não é genuinamente brasileira, e sim uma noção que vêm sendo amplamente debatida há muito nos fóruns internacionais. Como um direito econômico de último tipo, não seria assistencialismo e sim um direito universal como do da saúde, educação, segurança entre tantos outros. Mas obviamente reconhecemos o uso político dessa nova política, que acreditamos ser irreversível independente do governo em questão. Todos indicadores tem apontado para resultados positivos, seja na distribuição de renda ou no acesso à melhoria na qualidade de vida, inclusive no empoderamento das mulheres, que no caso do Programa Bolsa Familia, são a maioria no recebimento do beneficio. Existem inúmeras pesquisas empíricas que apontam para esses resultados, mas há muita partidarização e ideologização nas análises realizadas. Por exemplo, conheci comunidades inteiras desmonetarizadas, em que a única renda provinha dessas politicas, e isso é apontado como uma tendência, pois a renda futuramente não será somente fruto do trabalho e sim de redistribuição de riquezas, isso no passado isso só poderia ser pensado para uma elite proprietária do capital.

Hoje essa ideia da distribuição renda esta contida na proposta do Imposto Negativo, concebida por Milton Friedman, também Prêmio Nobel de Economia, dentro do marco liberal, pois atuaria de maneira a não prejudicar o funcionamento do mercado, ao mesmo tempo em que garantiria uma renda a todas as pessoas. Em muitos países já foi implantando, inclusive no Brasil pela Lei da Renda Básica de Cidadania em 2004, mas esta sendo de uma forma gradual. Acontece que para receber essa renda o método de verificação proposto é o ex ante, diferente dos sistemas mais usuais que operam ex post,ou seja, por meio da verificação da renda do beneficiário anterior ao recebimento do benefício. Se a pessoa é inadimplente isso será captado por meio do cruzamento de dados dos sistemas públicos de informação e ai encaminhado para o corte do benefício se esse for o critério.

Midiamax - Qual o espaço que a mídia dá para discutir esse assunto nos cadernos de Economia dos jornais ou na televisão? Por que os especialistas no assunto não associam em seus comentários sobre crescimento econômico o aspecto social?

Jacy Curado. Essa discussão não deveria ser de exclusividade dos economistas, por possuir muitas outras dimensões. Como psicóloga social, o meu ponto de vista é pela lente do que chamamos de biopolítica ou biopoder, que nos possibilita problematizar as novas formas de controle da população por meio da arte de governar almas, sujeitos, famílias e lógico, o Estado. Foucault, em seus últimos estudos antes de morrer deixou uma imensa contribuição para pensar a política no neo-liberalismo, são os estudos sobre governamentalidade, ao qual estou me apropriando, pois avança da noção do controle disciplinar, já bem conhecido, para o controle de populações e a gestão de indivíduos.

Ai entra uma grande questão na minha área de pesquisa – quem define quem é o pobre ? Todos esses indicadores, linhas de pobreza, de exclusão etc... Devem ser vistos como uma construção produzida socialmente e mediadas por relações de poder. Nesse campo, a discussão deve ser ampliada e todos podem participar, porque ainda há muito atraso, particularmente dos políticos do poder executivo que fazem um discurso economicista de modelo de desenvolvimento, pois poderiam incorporar, por exemplo, os debates recentes sobre questão da liberdade e da felicidade enquanto forma de desenvolvimento e não é somente ficar noticiando a criação de indústrias para criar empregos às vezes insustentáveis.

Midiamax - Pelos aspectos psicológicos, qual o motivo do novo pobre não conseguir ter forças para vencer o obstáculo da falta de dinheiro em um mundo globalizado?

Jacy Curado. O posicionamento da Psicologia sobre a pobreza têm sido recentemente alvo de críticas, que apontam uma excessiva individualização e patologização na literatura e prática psicológica, como por exemplo, o mau dos testes psicológicos que levam a psicologizar o social. Peter Spink, um dos poucos psicólogos brasileiros que estudam pobreza, discute a sua heterogeneidade e questiona a ótica centrada no indivíduo pobre, visto como fraco, culpado ou incompetente por um lado, e também questiona os que atribuem o problema ao terreno exclusivamente da política macroeconômica. Alessandra de Souza




A relação da Psicologia com a pobreza, em contexto de globalização, pode ser inscrita nas novas práticas de regulação e controle de governo de populações que tem contribuído com a criação de novas tecnologias de individualização. Acreditamos que a psicologia precisa assumir uma abordagem psicossocial e compreender melhor como as novas configurações do mundo atual produzem efeitos em nossas vidas, para pensar estratégias de enfrentamento coletivas que possibilitem as pessoas em situação de pobreza se inserir em redes sociais de proteção, acessibilidade a serviços, pertencimento a grupos de poder político, econômico e não somente realizar ações centradas no individuo como se a causa última de sua condição fosse exclusivamente um fenômeno psi.

Nossas práticas têm sido realizadas com grupos de idosos, jovens, gestantes, mulheres em situação de pobreza, visando o empoderamento e a potencialização dessas pessoas, mas sempre reconhecendo, por exemplo, como a auto-estima é constrangida pelo sexismo, racismo e outras competentes formas de controle e dominação. Assim, acredito poderemos qualificar nossa intervenção psicossocial.

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Comentários (19)
12/03/2010 22:41
Psicóloga Luciana Rondon
luciana@lucianarondon.com.br
Parabéns Jacy pela entrevista.
Luciana Rondon
www.lucianarondon.com.br


12/03/2010 11:36
Tania Regina Comerlato
taniacomerlato@yahoo.com.br
Sempre aprendo muito com Jacy, ela relmente foi mais uma vez brilhante, parabéns


12/03/2010 10:22
ynes da silva félix
ynesil@hotmail.com
Parabéns professora Jacy, mais uma vez você confirma sua profundidade intelectual e seu pionerismo na abordagem de tema tão necessário para o debate acadêmico e, sobretudo, para a prática política.
Parabéns ao jornal pela escolha da entrevistada.


11/03/2010 22:55
GALVAO PRETTO
cyga@terra.com.br
o pensar sobre pobreza da Prof. Jacy..requer um aprofundamento que invade areas hibridas..e revela que os varios lados da globalizacao precisam cada vez mais tornarem-se clarevidentes...diante dos olhos dos novos pobres..de forma que percebam o risco real de "contrair" essa "nova pobreza"...a sua pesquisa que demanda da idade media..sinuosamente aponta o desnivel economico em parceria com a riqueza de grupos...que etao no inverso dessa escala de sustentabilidade..percorrer areas de pobreza..analizar estes fatos aciona vaias outras questoes..que num olhar mais cauteloso e atento da nossa parte fara muitos de nos epensar su pposicionamento na vida..e "repetir como o rei: que eu sou? que eu sou?
Parabens pela pesquisa e contribuicao social...acima dos obstaculos.


11/03/2010 10:00
José Carlos Gomes
zecacgr@gmail.com
Bela intervenção. Cirúrgica. Noto que há um impasse: muito se espera do Poder Executivo. Mas já deviamos ter concluído: nenhuma reforma do Estado será endógena, ou seja, o aparelho de estado operando a si mesmo sem anestesia. Em segundo lugar, os políticos do executivo mal são capazes de sobreviver politicamente. Isso consome toda a energia deles. Querer que eles sejam inovadores, ousados e que postulem um modelo de desenvolvimento que contrarie as grandes empresas é muita coisa. Por isso proponho que façamos alguma coisa à margem dos partidos e dos seus eleitos. Porque não podemos defender um programa de governo pensado por pessoas como a Jacy? Seria uma pressão de fora para dentro.


10/03/2010 16:57
Eddie Miranda
eddiealessandro@hotmail.com
Não podemos esquece ainda que o Brasil criou ainda um outro tipo de pobreza, aquela proporcionada pela facilidade de acesso ao crédito, onde muitos aposentados, funcionários públicos, empresários hoje trabalham só para pagar os juros contraídos em cartões de créditos, consignações e demais emprestimos...é o rico pobre da classe média...