sábado, 20 de fevereiro de 2010

A Teoria Familista da Educação

A Pedagogia Essencial — PArte I

A Teoria Familista da Educação



Prof. Léo Villaverde

Jornalista científico, escritor, psicopedagogo, pesquisador da ciência

há 38 anos. Autor de Biocosmos — O Universo Vivo (Cultrix, 750p)




1. Família: O Fundamento Científico da Pedagogia Essencial



A ideia básica da Pedagogia Essencial, ou teoria familista da educação, é o fato de que a família é a escola primária no processo da educação e da aprendizagem. A família é o grupo natural primário da interação social dos indivíduos, sendo o primeiro e o grupo de mais forte e duradoura influência na vida dos indivíduos. É na família que se forma os mais poderosos vínculos das relações humanas. A sociologia e a antropologia cultural constataram que em toda a história todas as sociedades criaram e valorizaram a instituição familiar básica (homem-mulher-filhos). De tão universal e histórica, a família pode ser definida como uma instituição natural imprescindível à saúde psíquica individual e social.

A importância e a necessidade imprescindível dos valores familiares (fidelidade conjugal, abstinência pré-matrimonial, companheirismo, fraternidade, solidariedade, afetividade, entre outros) para os indivíduos e para a sociedade foram demonstradas claramente pelo pesquisador norte-americano Dr. Joseph Daniel Unwin, em seu livro Sex and Culture (Oxford University Press, 1934). O Dr. Unwin realizou uma pesquisa de antropologia que durou 7 anos, na qual analisou em detalhes 80 sociedades e 16 civilizações dentro de um período de mais de quatro mil anos de história, e constatou que todas as sociedades que optaram pela promiscuidade sexual declinaram e desapareceram, enquanto aquelas que optaram pela moralidade sexual sobreviveram e prosperaram. Em outros termos, toda sociedade que desprezou os valores familiares, declinou e desapareceu. E as sociedades que valorizaram a família sobreviveram e progrediram. Um exemplo histórico real deste fato está no povo judeu, que tem 4.000 anos de história. Apesar de ter sido invadido, dividido, despojado e dispersado várias vezes pelo mundo em sua longa história, o povo judeu sobreviveu e preservou sua identidade cultural intacta. Por que? Uma das possíveis causas foi devido ao forte vínculo interno da família judaica. Este fato nos levaram a pensar nos valores que baseiam as relações familiares (transmitidos e aprendidos no seio da família) como os valores que deveriam inspirar r fundamentar as teorias e os métodos pedagógicos. Desse insigth nasceu a Pedagogia Essencial, uma teoria da educação baseada nos 3 desejos essências da natureza humana, a qual se baseia em 5 pilares básicos: a teoria Deusista, a teoria familista, a teoria dos desejos essenciais, a teoria holopedagógica e as leis da pedagogia essencial. Estudaremos estes 5 pilares teóricos ao longo deste texto.

Por sua vez, o sociólogo russo Dr. Pitirim Sorokin, da Universidade Harvard, ao analisar diversas culturas dos cinco continentes ao longo da história, escreveu que “Todas as revoluções políticas que levaram ao colapso social foram precedidas de uma revolução sexual na qual a família e o matrimônio foram desprezados e desvalorizados.” Sorokin também observou que nos primeiros anos da Revolução Russa o governo atacou deliberadamente o matrimônio e a família. Podia-se obter divórcio por qualquer motivo e a qualquer momento. O aborto era legal e facilitado e as relações pré-matrimoniais e fora do matrimônio eram favorecidas e vistas como normais. Sorokin escreveu sobre os resultados daquela política oficial:

“Em poucos anos, gangs de crianças sem lar e violentas tornaram-se uma séria ameaça para o país. Milhões de vidas, especialmente meninas, foram destruídas. O divórcio e o aborto chegaram ao máximo. O ódio, os conflitos e as psiconeuroses gerados pela desintegração familiar aumentaram rapidamente. A produtividade nas fábricas decaiu. Os resultados foram tão alarmantes que o governo foi obrigado a inverter sua política antifamiliar. A propaganda do “Copo de Água” foi declarada contrária à Revolução, e em seu lugar foi implantada a glorificação oficial da castidade e da santidade do matrimônio. Em outras palavras: os russos descobriram a triste realidade de que o sexo, se considerado como um apenas um apetite a mais, não só arruinava o individuo, mas arruinava rapidamente o próprio país”.

A Depois do desastre, o governo russo retirou os menores das ruas e instituiu o Dia da Família, rejeitando completamente as hipótese que Friedrich Engels defendeu em seu livro A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado.



2. A origem natural da família



A teoria familista da educação parte da proposição da origem natural da família. Esta proposição pode ser inferida do fato de que todos os seres naturais: minerais, vegetais, animais e humanos são unidades-duais constituídas de elementos distintos e complementares (positivo-negativo). Do átomo (próton-elétron) ao ser humano (homem-mulher). Assim, enquanto o planeta Terra existir, o homem e a mulher continuarão sob o efeito da atração mútua (o amor), originando descendentes e estabelecendo relações de intercâmbio e interdependência entre si (grupo familiar). Assim, enquanto existir vida humana sobre o nosso planeta a família natural (positivo-negativo) será uma realidade biológica e perpétua. Sob esse prisma, não se pode falar (cientificamente) em novos tipos de família formadas por pares positivo-positivo ou negativo-negativo. Observa-se que, mesmo estes pares têm buscado (talvez, inconscientemente) ajustar-se ao modelo natural positivo-negativo, formando pares onde um dos elementos comporta-se como o negativo (nos pares positivo-positivo) ou o positivo (nos pares negativo-negativo). Desse modo, tais pares não podem ser classificados como novos tipos de família natural, mas sim como distorções do modelo natural único. Como os seres humanos são entidades biológicas, partes integrantes do mundo natural, também estão sujeitos às mesmas leis naturais. Por isso, tendem a procurar sempre o modelo natural. É como a chamada força da gravidade. Ninguém pode escapar de sua ação no planeta. Os seres da natureza tendem, como se diz em física, a retornar ao estado fundamental (ao estado natural). Aliás, esta é a tendência natural de todo o planeta, como demonstrou a teoria Gaia, do bioquímico inglês James Lovelock, que se auto-regula, se auto-regenera e se auto-equilibra como um todo. Foi também o que demonstramos em nosso trabalho Biocosmos. O Universo Vivo (editora Cultrix, 2000), todos somos partes de um planeta vivo que, por sua vez, é uma parte viva de um superorganismo vivo ainda maior: o próprio universo.



3. A família e a sociedade como instituições naturais



Todos os estudiosos têm concordado — por força da antropologia social, da etnologia e da sociologia — que “a família é a célula-mãe das sociedades”. Este parece ser um ponto pacífico entre os estudiosos. Todavia, muito pouco se tem falado acerca da origem natural da família. Por quê? Provavelmente, porque a teoria da origem natural da família é um contraponto à teoria da origem social da família, implantada na mentalidade humana com base no argumento de que a família é uma instituição social, de origem e natureza social.

Neste texto, iremos propor uma abordagem unificada: a família é uma instituição de origem natural e social, e também que é na família desequilibrada (carente de amor e verdade) que nascem as pessoas com problemas de aprendizagem. E que, portanto, o psicopedagogo não deve restringir sua atuação á escola, mas deve também atuar na família de modo a prevenir o surgimento de pessoas com problemas de aprendizagem.

O que é a sociedade humana senão uma extensão da unidade social fundamental: a família? Dois indivíduos, um positivo e outro negativo, tendem à atração mútua (pela força do amor) e formam uma unidade-dual natural: um casal, que se multiplica, tornando-se uma família, a qual se amplia, formando um clã, que se amplia formando uma tribo, que se amplia formando uma sociedade, que se amplia formando uma nação, e as nações juntas constituem o mundo. E tudo começa com uma família, com um casal primário natural. Isto não deve causar surpresa, uma vez que todas as espécies (por mais numerosas que sejam) tiveram origem em um primeiro par positivo-negativo semelhante, o qual, por afinidade da espécie, atraíram-se mutuamente, originando a espécie como um todo. Este fato nos conduz à idéia da sociedade natural, haja vista que resulta da ampliação espontânea de uma unidade-dual natural — a família.



4. A Família e o Fenômeno da Regência Central



Um fato conduz ao outro. E temos, então, que postular a realidade de um princípio natural que estabelece que em toda unidade dual, um par ocupa sempre a posição de sujeito, e outro, a de objeto (sem conotação axiológica). Assim, vemos no átomo, o próton (positivo) em posição de unidade regente, e os elétrons (negativo) em posição de unidades regidas; são elementos distintos e complementares (um átomo não é apenas um próton, mas prótons e elétrons juntos; é uma unidade-dual). Vemos o mesmo nas células (núcleo e citoplasma), nos vegetais (estame e pistilo), nos animais (macho e fêmea), na espécie humana (homem e mulher), no sistema solar, o sol (positivo) em uma posição de astro regente, e os demais planetas (negativo) em posição de astros regidos. Se isto é naturalmente assim, isto é ciência natural pura. Incontestável, portanto. Logo, onde houver uma unidade-dual na natureza, um dos pares ocupa a posição de sujeito regente, e o outro, a posição de objeto regido. Evidentemente, isto é assim também com a família como unidade-dual natural.

Histórica e biologicamente o homem sempre ocupou a posição de sujeito regente (repito: sem conotação axiológica, de valores). Trata-se unicamente da relação natural presente nas unidades-duais em toda a natureza. Até da aparência física do homem e da mulher pode-se inferir esse ordenamento natural. Na natureza, em geral, o macho é sempre maior e mais forte fisicamente do que a fêmea, e nos ataques ao bando, são eles quem lidera a defesa, protegendo suas fêmeas e suas crias. Embora soterrada sob uma espessa camada de hipóteses que tentam negar este fato natural, ainda se pode observar na sociedade humana — e também na família —, o mesmo fato natural. Apesar do movimento feminista, muitas mulheres em todo o mundo já perceberam que sua força não está no tamanho nem no vigor de seus corpos físicos, mas na delicadeza e na beleza de suas formas; isto é, na força da beleza. Citemos um exemplo ilustrativo: a história de Sansão e Dalila. História nos conta que Sansão era um homem grande e forte. Derrotou um exército inteiro com uma simples queixada de burro. Um exército filisteu inteiro não conseguiu derrotá-la, mas a sutil delicadeza e beleza de uma mulher — Dalila — o escravizou e o matou. Poderíamos citar dezenas de outros exemplos históricos e contemporâneos onde a força da delicadeza e da beleza venceram a força física, para não falar da beleza de Helena, pivô da Guerra de Tróia, e da queda de políticos famosos que sucumbiram sob a poderosa força da delicadeza e da beleza.

Do que vimos até aqui, pode-se concluir que uma família natural é uma unidade-dual constituída por dois elementos distintos e complementares (homem e mulher, positivo-negativo), a qual somente sobrevive com base em uma ação harmoniosa de interconexão, intercâmbio e interdependência recíproca. E esta relação harmoniosa — base existencial das unidades-duais — somente pode existir na presença de dois elementos: o amor (o “grude” que os atrai e os mantém unidos) e a verdade, a compreensão de que cada elemento é uma parte distinta e complementar do outro, que os dois elementos não são idênticos, não podem ocupar o mesmo espaço nem a mesma posição na ordem natural, e que, por serem distintos e complementares, um, necessariamente, ocupa a posição de sujeito, e o outro, a de objeto. Na família, o homem ocupa a posição de sujeito, e a mulher, a de objeto; os pais ocupam a posição de sujeito, e os filhos, a de objeto; os irmãos mais velhos ocupam a posição de sujeito, e os mais novos, de objeto. O mesmo acontece na sociedade (uma vez que esta é uma família ampliada; é também uma instituição natural). Na escola, o professor ocupa a posição de sujeito, e os alunos, a de objeto; no Estado, o governo ocupa a posição de sujeito, e o povo, a de objeto. O modelo natural revela que o sujeito existe para servir ao objeto — e é esta a característica básica do sujeito. O sujeito não existe para si mesmo, mas para os outros. Veja-se o caso da abelha rainha. Ela é maior e mais forte, mas existe para a colméia. Serve a todas e sacrifica-se pelo bem do todo. Nunca sai da colméia nem sequer para um único vôo. Nenhum ser humano egoísta optaria por ser um rei nestas condições.



5. A Tendência Humana ao Desprezo pelo Modelo Natural



Um fato conduz a outro. E temos que pensar na estrutura funcional da família. Quem se sacrifica por quem? Obviamente, são os pais que se sacrificam completamente pelos filhos. Olhe para os governos e para o desenvolvimento da nação brasileira. Governo após governo cada um acrescentou algo à sociedade brasileira. Olhe para o desenvolvimento tecnológico da sociedade humana. Geração após geração, cada uma acrescentou algo ao nível atual de saber e tecnologia da humanidade. Onde está, pois, a raiz de tantos problemas ao lado de tantos bons feitos sociais? Está no egoísmo humano (devido à amplitude e à profundidade do tema egoísmo, não o abordaremos aqui). O homem egoísta sempre apresentou uma tendência a desprezar e a inverter o modelo natural. O sujeito, em vez de servir ao objeto e ao todo, serve-se do objeto e do todo em seu próprio benefício. O aluno, em vez de posicionar-se dentro de sua posição natural, tende a inverter suas posições e papéis; mais ainda, estimulado por hipóteses “pedagógicas” que o estimulam nessa postura com “justificativas” teóricas. Essa inversão de posições e papéis é um dos labirintos teóricos por onde a pedagogia se perdeu.



6. A Pedagogia no Labirinto: Qual a finalidade da Educação?



Se existe apenas uma única humanidade e uma natureza humana universal inata, deve haver uma teoria pedagógica e um método pedagógico verdadeiro e único. Com estes, teríamos um sistema educacional perfeito. Se falamos de uma teoria pedagógica perfeita e de um método pedagógico perfeito estamos falando de uma teoria e de um método únicos, pois uma teoria prefeita e um método perfeito significam que foram aperfeiçoados ao longo do tempo com base nas muitas teorias e nos muitos métodos existentes anteriormente. E sendo perfeitos, não necessitam de reparações ou acréscimos.

Onde estão, então, esta teoria pedagógica prefeita e este método pedagógico perfeito? Não existem ainda. Portanto, precisamos buscá-los, descobri-los. Não basta, portanto, continuar simplesmente aplicando teorias pedagógicas e métodos pedagógicos imperfeitos criados há mais de um século. A aplicação das teorias e dos métodos atuais geraram o sistema educacional problemático atual. As contribuições de Comenius, Lutero, Piaget, Wallon, Vigotsky, Skinner, entre muitos outros, foram valiosas, mas não foram suficientes. Temos muitas teorias e muitos métodos, mas o nosso sistema educacional está em crise, exigindo remendos e reformas urgentes. Precisamos solucionar este problema. A questão, portanto, é: onde está a raiz do problema do nosso sistema educacional? Nas teorias, nos métodos, no sistema, nos governos, nos professores, nos alunos, nos pais ou nas famílias? Qual a raiz da sociedade? Não é a família? Logo, é na família que nascem os problemas do nosso sistema educacional. E é, portanto, para ela que a pedagogia deve também voltar seu olhar .



7. O Psicologismo: O Labirinto Teórico da Pedagogia



Qual o problema das teorias pedagógicas em vigor? Temos muitas teorias, mas podemos classificá-las em dois grupos básicos: as materialistas (inspirados no materialismo de Marx e Freud, como as teorias de Vygotsky e Skinner) e as não-materialistas (inspiradas no Cristianismo, tais como as teorias de Comenius e Piaget). Eis a essência do problema. Onde está a verdade: no materialismo ou no Cristianismo? A história geopolítica do século XX e a ciência do século XX provaram que as teorias materialistas, aplicadas na prática, não produzem os resultados que prometem. Aplicadas nas sociedades totalitárias e democráticas, elas fracassaram em todos os campos: na política, na economia e na educação. O estado caótico interno (crise de idéias e valores) do sistema educacional brasileiro exige, não apenas investimentos materiais (estes apenas aumentariam o tamanho do sistema que aí está). Precisamos, principalmente, de novas idéias, idéias não materialistas (uma vez que o sistema em crise foi inspirado basicamente por idéias materialistas). Vejamos o exemplo das teorias de Vykotsky, o mais festejado pensador da educação do nosso sistema educacional.



8. A teoria histórico-cultural de Vykotsky. Uma análise crítica



Vykotsky é um pensador marxista-leninista. Portanto, materialista e ateísta, adepto das teorias que criaram o desastroso mundo comunista (que ruiu em l988). A idéia básica da teoria histórico-cultural de Vykotsky é a idéia da formação social da mente (título de um de seus livros). No livro Introdução à Psicologia da Educação, o organizador Kester Carrara, sintetizou o conceito basilar da teoria de Vykotsky:

“A teoria histórico-cultural parte do pressuposto de que, na presença de condições adequadas de vida e de educação, as crianças desenvolvem intensamente, e desde os primeiros anos de vida, diferentes atividades práticas, intelectuais e artísticas e iniciam a formação de idéias, sentimentos, hábitos morais e traços de personalidade...”.



Ou seja, o ser humano é como uma folha de papel em branco; nasce como um corpo carnoso vazio, mas com o potencial para tornar-se humano. Em outros termos: o ser humano é o que apreende da cultura. A cultura cria a mente e a natureza humana. Isto significa que, para a teoria histórico-cultural, quando o primeiro veio a existir já encontrou uma cultura humana para torná-lo homem. É um total contrasenso. Mas, porque ninguém o notou? Aqui cabem algumas perguntas: o que veio primeiro: a mente humana ou a cultura humana? Quando o primeiro casal homo sapiens surgiu, já existia a cultura humana? E se a cultura humana pré-existiu ao homem, quem a criou, se não existiam mentes nem cultura? Podemos acreditar que Vykotsky não percebeu estas contradições na época em que construiu sua teoria. Mas isto seria muita ingenuidade e bonomia da nossa parte. Sabendo que o conceito de cultura é o conceito fundamental de sua teoria, podemos acreditar que Vykotsky realmente não pensou nestas questões? Provavelmente, pensou. Mas, como marxista-leninista, ele tinha ideais e objetivos comunistas globais. Para um marxista-leninista, imerso no “messianismo” marxista, o fim justifica os meios. Assim, seria mais sensato pensar que a sua teoria histórico-cultural foi desenvolvida a priori para se contrapor à teoria da educação cristã das sociedades democráticas.



9. A Hipótese da Tábula Rasa e a Teoria da Natureza Humana Inata



Pode-se ignorar a abordagem crítica que fazemos aqui da teoria histórico-cultural, mas não se pode ignorar a ciência, pois ela progride precisamente com base na substituição de teorias imperfeitas do passado por teorias mais perfeitas do presente. E no presente a teoria da tábula rasa (a formação social da mente, base da teoria de Vykotsky) já foi suplantada pela idéia oposta: a teoria da natureza humana inata, segundo a qual todos os seres humanos já nascem dotados de um conjunto de proto-idéias, sentimentos e necessidades emocionais inatas. Assim, a natureza humana não é formada a partir da cultura externa, pré-existente e oriunda do nada, mas a cultura é formada a partir da exteriorização da natureza humana inata; das necessidades humanas essenciais. Vejamos o exemplo da teoria das faculdades humanas fundamentais: emoção, intelecto e vontade. Impulsionado pelo desejo de alegria (a finalidade da existência humana), o homem cria as artes, em busca da beleza; cria as filosofias e as ciências, em busca da verdade, e cria a religião e a filantropia, em busca da bondade. A beleza, a verdade e o bem, inquestionavelmente, satisfazem desejos humanos e são fontes absolutas de alegria para todos os seres humanos. O desejo pela beleza e o talento para as artes são inatos, são componentes intrínsecos da natureza humana universal. São inúmeros, em toda a história e em todo o mundo, os exemplos de crianças prodígios, capazes de desenhar, pintar, compor, dançar, etc, natural e espontaneamente, antes de quaisquer ensinamentos formais. O talento para as artes, para os esportes, para a ciência, etc, são inatos. Isto explica as pinturas rupestres, os vestuários e instrumentos primitivos, etc. O acúmulo do conhecimento explica o progresso da cultura, progresso que se manifesta no aperfeiçoamento dos talentos humanos inatos.



10. Chomski, Pinker e a Morte da Hipótese da Tabula Rasa



A título de exemplificar, citemos apenas três pensadores contemporâneos, cujas teorias científicas desmontaram a base teórica da teoria histórico-cultural: Noan Chomski, Donald Brown e Stevem Pinker.

Chomski criou a teoria da linguagem inata, na qual demonstrou que todos os seres humanos já nascem com a capacidade potencial inata para a linguagem (como um software), assim também como diferentes espécies de aves manifestam cantos peculiares que os identificam. Assim também é o homem. A língua se aperfeiçoa paralelamente ao aperfeiçoamento da cultura, mas o que as palavras expressam são os desejos, os sentimentos e as necessidades humanas inatas e universais. Note-se que, em toda a história e em todos os lugares, as expressões faciais dos seres humanas são idênticas na manifestação dos mesmos sentimentos, tais como ira, alegria, tristeza, mágoa, desprezo, dor, etc. Universal e historicamente, os seres humanos também manifestaram e manifestam desejos e necessidades idênticas. E assim por diante.

Por sua vez, Donald Brown, em seu livro Human Universals (1991), compilou uma lista de cerca de 400 traços culturais universais presentes em todas as culturas primitivas e antigas do mundo, as quais se formaram independentemente umas das outras, demonstrando definitivamente a realidade de uma natureza humana inata e universal.

Comentando a obra de Brown, Steven Pinker, professor de psicologia da Universidade Harvard, dos Estados Unidos, em seu livro Tabula Rasa (Companhia das Letras, 2002) analisa e reafirma a realidade da natureza humana inata e universal, listando em seu livro os 400 traços culturais humanos universais (de Brow) presentes em todas as culturas estudadas pelos etnógrafos e pelos antropólogos culturais (Pinker cita uma lista com 400 universais humanos — traços culturais endêmicos desenvolvidos por culturas independentes e isoladas no tempo e no espaço umas das outras). Podemos ainda citar a teoria dos imperativos morais de Kant, entre muitos outros filósofos e cientistas cujas pesquisas e teorias confirmaram a realidade da natureza humana inata universal. Em conclusão, a pergunta: existe uma natureza humana inata universal, ou o homem nasce como um corpo carnoso vazio, uma folha de papel em branco? A resposta da ciência contemporânea é: Sim. Existe uma natureza humana inata universal. Logo, a teoria histórico-cultural de Vykotsky, em que pese sua aparente solidez e elegância teórica, é fundamentalmente falsa. E se sua base fundamental é falsa, a teoria não produzirá os resultados que promete, e deve ser alijada do sistema educacional brasileiro, que está em busca de uma teoria pedagógica e de um método pedagógico perfeitos a fim de aperfeiçoar-se. Concluindo, podemos dizer que a origem do caos pedagógico que assola o sistema educacional brasileiro está na confusão ideológica provocada pela guerra cultural entre o materialismo e o Cristianismo na sociedade ocidental.



11. A Psicologia Dividida e Conflitada.

A Escola Psicologizante e a Escola Familista



A Profª Tânia Zagury, pedagoga e mestre em educação, em livros como Limites sem Trauma, Sem Padecer no Paraíso, Os Direitos dos Pais, Educar Sem Culpa, O Professor Refém, entre outros, tem sistematicamente denunciado a profunda, longa e, muitas vezes, inadequada influência da psicologia na pedagogia. Em seu livro Sem Padecer no Paraíso, a Profª Tânia Zagury

“discute os principais problemas que envolvem a educação dos filhos na sociedade moderna, quando toda uma geração de pais foi influenciada por uma visão excessivamente psicologizante. As ambigüidades, as diferenças entre as regras estabelecidas pelos teóricos e o que acontece na realidade são o tema de seu livro, onde também critica a tirania de alguns especialistas que contribuíram para a disseminação de um dos maiores males da educação moderna — o psicologismo.”



Por sua vez, a Drª Guiomar Namo de Mello, doutora em educação pela Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), concordando com a Profª Tânia, escreveu:

“Este livro constitui um saudável exemplo de que é possível desenvolver, sem conservadorismo, um pensamento divergente das modas e manias autoproclamadas modernas. A autora mostra como as exigências estabelecidas pelos especialistas quanto à melhor forma de atingir esse objetivo — a educação — são, em geral, de pouca ajuda, ou mesmo dificultam a tomada de decisões equilibradas nas relações entre pais e filhos... O que provavelmente torna essa tarefa (a educação) mais complexa nos dias atuais é a ausência de um sistema único de valores, é o caráter pluralista, intensamente dinâmico das sociedades atuais, nas quais padrões de conduta e concepções de mundo disputam a hegemonia sem que uma delas prevaleça”.



Em seus livros, a Profª Tânia Zagury também tem sistematicamente defendido o estreitamento da parceria Família-Escola:



“Nossa sociedade está vivendo uma situação-limite: violência crescente, glamourização e abuso do uso de drogas, aumento de suicídio, depressão entre os jovens, crise ética, consumismo desenfreado, corrupção e impunidade... A única saída é formar em nossos filhos e alunos valores tão firmemente internalizados, que se tornem parte deles mesmos. Para isso é preciso ter, antes de tudo, reassegurados os direitos dos pais. É fundamental voltar a crer na força da influência da família.”



Eis as visões da Profª Tânia Zagury (mestre em educação, autora de 11 livros) e da Drª Guiomar Namo de Mello, doutora em educação e professora da PUC-SP, as quais contestam, por um lado, a influência profunda e “exagerada” da psicologia na pedagogia, influência que acabou por desnortear professores e pais; e por outro, enfatizam a importância da parceria Família-Escola. E ambas revelam ainda que o pensamento pedagógico brasileiro está dividido entre duas Escolas, que denominaremos aqui de Escola Psicologizante e Escola Familista-realista. Diante da crise do sistema educacional, há uma tendência entre professores e pais a adotarem as idéias da Escola Familista.

Evidentemente educação é aprendizagem, e aprendizagem tem a ver com psicologia. Portanto, não está se falando das teorias pedagógicas relativas ao processo psicológico da aprendizagem, mas às extrapolações e às inserções que alguns psicólogos materialistas têm feito na pedagogia, imiscuindo nela conceitos alheios acerca da origem e da natureza do homem e da finalidade da educação; chegando alguns, ao absurdo de afirmar que a finalidade da educação é a conscientização do homem quanto à sua situação de miséria e exploração, propondo como solução: a revolução socialista pela força. Como se o espírito revolucionário (rebelião social) e a violência social fossem elementos pedagógicos.



12. A Pedagogia Essencial ou Natural: Uma Teoria

e um Método Pedagógico Derivado da Natureza Inata do Ser Humano



A influência da psicologia na pedagogia é antiga, ampla e profunda. Por isso, não podemos abordá-la adequadamente aqui. Contudo, podemos apresentar uma síntese, como um contraponto essencial, acerca da finalidade da educação com base na teoria da natureza humana inata (já abordada anteriormente).

Uma das características universais constatadas pela antropologia cultural, pela etnologia e pela psicologia é a presença de 3 desejos essenciais na natureza humana: educação, família e prosperidade. Todos os seres humanos apresentam um desejo básico essencial: o desejo de ser feliz. Tudo o que fazem está direcionado para a realização desse desejo que, de tão universal e histórico, pode ser identificado com a própria finalidade da existência humana — ser feliz. Para ser feliz, o homem precisa exercer a sua criatividade, para ser criativo precisa ser livre e para ser livre precisa ser responsável. Sem responsabilidade (sem o cumprimento de seus deveres) ele não tem direito à liberdade (seus direitos), sem liberdade não pode ser criativo e sem o exercício de sua criatividade não pode ser feliz. Assim, seu desejo e seu objetivo de vida essencial é a felicidade, mas a felicidade não se revela como uma meta, mas como o resultado do cumprimento da responsabilidade; o cumprimento de seus deveres na vida. Por aqui já dá para perceber que o pensamento da sociedade atual (e, em parte, também o sistema educacional) parece caminhar na direção contrária à realização do desejo humano essencial (o desejo de felicidade plena): enfatiza os direitos e a liberdade, em vez de enfatizar os deveres e a responsabilidade. Responsabilidade com relação a quê? Com relação à realização dos três desejos essenciais da natureza inata dos seres humanos: o desejo de aperfeiçoar-se pela educação, o desejo de constituir uma família natural (e gerar uma descendência) e o desejo de prosperar materialmente. A ordem natural é: educação, família e prosperidade. Eis a idéia básica da Pedagogia Essencial e de sua metodologia. Ela tão somente constata a realidade universal e histórica dos 3 desejos essenciais da natureza humana, relaciona-os com o desejo universal e inato de felicidade e se propõe a auxiliar o homem a realizá-los, levando-o finalmente a atingir a felicidade plena. Assim, uma pedagogia natural se propõe a fornecer aos educandos elementos que auxiliem, facilitem e os encaminhem na direção da realização de seu desejo essencial de alegria; que será concretizado pela realização dos 3 desejos essenciais de natureza humana inata. Nesse contexto, tudo o que contribuí para a realização dos 3 desejos essenciais é uma virtude, e deve ser estimulada e premiada, e tudo o que se contrapõe à realização daqueles 3 desejos essenciais, é um vício, e deve ser desestimulado e punido. Aqui se aplica perfeitamente a teoria do reforço de Skinner, a qual já foi aceita e está sendo aplicada mundialmente. A questão, portanto, está na definição do que contribui ou não para a realização da felicidade através da concretização dos 3 desejos essenciais da natureza inata dos seres humanos.

Pensando bem, esta Pedagogia Essencial, ou Natural, sempre esteve em vigor em toda a sociedade humana. Ainda que inconscientemente muitos pedagogos utilizam-se dessa teoria e desse método (especialmente os educadores de índole religiosa), mas encontram em seu caminho obstáculos teóricos gigantescos introduzidos por psicólogos e pedagogos materialistas confusos, que, ao invés de contribuir para a realização do desejo essencial da natureza humana — a felicidade, através da realização dos 3 desejos essenciais — contrapõem-se a eles, inventando e impondo suas visões hipotéticas pessoais por mera pretensão doutoral.

Um exemplo clássico deste fato está em Piaget. Quando criou a Escola Livre de Genebra (a aplicação de sua teoria estruturalista da educação), Piaget suprimiu praticamente a presença e a autoridade do professor, supondo, talvez, que a educação se realizaria natural e automaticamente, como propunha Sócrates em relação à busca da verdade que jazia no interior do próprio homem. Assim, Piaget propôs que crianças-alunos fossem deixadas livres, sem orientação e sem direcionamento para que aprendessem sozinhas por suas próprias experiências. Foi um fracasso.

Passados 20 anos, pesquisas realizadas com aquelas primeiras crianças (já adultas) constataram que a quase totalidade delas havia se transformado em adultos medíocres, sem criatividade, indisciplinados, sem ideais e sem objetivos definidos na vida. O único daqueles alunos que se saíra bem na vida foi um aluno esportista que fora rigidamente disciplinado e educado por seu treinador, fato que demonstrou inequivocamente a importância e a necessidade da autoridade de um professor adulto que estabeleça limites e disciplina com competência e propriedade na Escola. Piaget ficou abatido com aqueles resultados desastrosos, mas não jogou sua hipótese no lixo. Pelo contrário, continuou divulgando-a e expandindo-a. E a hipótese estruturalista foi adotada por milhões de professores e escolas do mundo inteiro. A hipótese estruturalista, e seu conceito de escola livre, foi disseminada pelo mundo apoiada nos estudos de Piaget sobre o desenvolvimento psicológico das crianças (gradual e por etapas: sensório-motor, pré-operacional, operacional concreto e operacional formal). Os psicólogos e pedagogos aceitam a teoria de Piaget sobre o desenvolvimento da psicologia infantil, mas não a separam de sua teoria e de sua metodologia pedagógicas desastrosas, conforme o próprio Piaget constatou em sua experiência com a Escola Livre. Assim, embora as teorias de Piaget tenham representado uma contribuição à compreensão do desenvolvimento da psicologia infantil, sua teoria e sua metodologia pedagógicas, talvez, tenham trazido um mal muito maior, inspirando todas as idéias atuais quanto à redução do papel e da autoridade do professor na sala de aula. Muitas escolas, equivocadas, estão ensinando às crianças que os adultos são desnecessários, que elas não precisam deles e que podem aprender tudo e fazer tudo sozinhas. Este ensinamento é a semente do fim da disciplina e dos limites, cujo fruto é a rebelião social. Não estamos colhendo hoje os frutos daquela semente?

A problemática pedagógica atual é gigantesca, e não poderíamos abordá-la aqui em todas as suas facetas. Assim, propusemo-nos tão somente a desenvolver e apresentar uma nova perspectiva pedagógica, a Pedagogia Essencial, a qual propõe que a finalidade da educação e auxiliar o homem a encontrar a felicidade (seu sentido existencial), através da concretização dos 3 desejos essenciais de sua natureza inata: educação (crescimento pessoal), família (perpetuação da linhagem e da espécie) e prosperidade (progresso material).

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