sábado, 20 de fevereiro de 2010

Holopedagogia — A Educação Integral

A Pedagogia Essencial — Parte II

Holopedagogia — A Educação Integral



Prof. Léo Villaverde

Jornalista científico, escritor, psicopedagogo, pesquisador da ciência

há 38 anos. Autor de Biocosmos — O Universo Vivo (Cultrix, 750p)





1. Crianças — As Sementes do Futuro



Qual a importância das crianças para a sociedade humana? Se perguntarmos às pessoas comuns, às autoridades, aos pais e professores a resposta será mais ou menos a mesma: As crianças são as sementes do futuro. A ONU criou um departamento voltado especialmente para cuidar dos problemas das crianças (a UNICEF) e foi elaborada uma Declaração Mundial dos Direitos da Criança. No Brasil o Congresso Nacional aprovou o Estatuto da Criança e do Adolescente, visando a proteção da criança. Por todas as partes do mundo presenciamos um forte interesse e preocupação pelas crianças. O que pretendemos analisar neste texto é a extensão e a profundidade dessa preocupação; e até que ponto essa preocupação engloba a criança e qual o papel da família, da sociedade, da Igreja e do Estado em relação à criança.

Simultaneamente iremos propor uma abordagem mais profunda e realista acerca da natureza da criança como ser humano e como ser dual e unidade-dual — mente/corpo, espírito-matéria — , com o propósito de despertar a atenção dos profissionais da educação para a necessidade de uma abordagem pedagógica mais profunda e dualista (não no sentido cartesiano e hegeliano, onde espírito = razão, mas no sentido judaico-cristão), por isso holopedagógica (do gr. holos = todo) como complemento da abordagem materialista e superficial da pedagogia contemporânea (que vê a mente e a espiritualidade humanas como produtos do cérebro físico), uma abordagem superficial que pode ser uma das raízes teóricas da problemática educacional contemporânea.



2. A Criança e a Natureza Dual do ser Humano



O que é um ser humano? Há no ser humano alguma coisa que o distingue dos animais, ou o ser humano é um mero animal? Há quatro mil anos a espiritualidade humana era uma mera questão de fé, dependente de experiências místicas individuais isoladas. A prática do ensinamento religioso conduzia a tais experiências. Hoje, porém, com o avanço da ciência a espiritualidade humana tornou-se quase uma certeza. Conhecidos pensadores como Carl Gustav Jung (psicólogo), Fritjof Capra (físico), Stanislav Grof (psicólogo), Sir John Eccles (neurologista e prêmio Nobel inglês), entre outros, afirmam sem rodeios a natureza dual espírito-corpo do ser humano; a existência de um corpo humano espiritual eterno. Não me proponho a contestar neste artigo o ponto de vista do ateísmo e do materialismo (isso renderia vários livros). Dirijo-me ao Brasil, a uma sociedade, a uma Escola e a um governo Deusistas. Não obstante, gostaria de citar alguns autores e pesquisas relacionadas à questão da dualidade humana espírito-corpo.

Uma das pesquisas mais conhecidas mundialmente sobre a espiritualidade humana foi realizada pelo médico norte-americano Raymond Moddy e registradas em seu best-seller A Vida Depois da Vida. O Dr. Moddy realizou uma minuciosa pesquisa mundial envolvendo centenas de pessoas de idades, sexo e países diferentes que estiveram clinicamente mortas, constatando que todos os seres humanos que estiveram clinicamente mortos por alguns instantes vivenciaram uma mesma experiência: sentiram-se atraídos para fora de seus corpos físicos, vendo-se a seguir fora de seus corpos assistindo às equipes médicas tentando ressuscitá-los O mesmo se passava com aqueles que estiveram em coma, os quais assistiam, de fora de seus corpos, o trabalho das equipes médicas nas UTIs e também a visita de seus familiares. Ao final de seu livro o Dr. Moddy deixou aos leitores a sua conclusão: os seres humanos continuam a existir após a morte do corpo físico. O Dr. Moddy compilou uma síntese única das muitas declarações sobre a espiritualidade humana colhidas em sua ampla pesquisa:

“No momento da morte o indivíduo ouve um incômodo zumbido, e ao mesmo tempo se sente transportado muito rapidamente através de um túnel longo e escuro. Depois disso, de repente se encontra fora de seu próprio corpo físico, mas no meio-ambiente físico imediato, e pode ver seu próprio corpo a certa distância, como se fosse espectador. Depois de certo tempo percebe que ainda tem um corpo, mas diferente do corpo físico que abandonou”.

Pesquisas mais recentes, como a do Dr. Jeff Levin publicada em seu livro Deus, Fé e Saúde (editora Cultrix), estudaram cientificamente (utilizando a metodologia da ciência ortodoxa) a conexão espiritualidade e saúde física, constando que efetivamente a fé e crença na espiritualidade geram uma esperança profunda, a qual influencia o estado emocional e físico dos pacientes produzindo um efeito psicossomático surpreendente. O livro do Dr. Jeff Levin é uma pesquisa e uma obra acadêmica fortemente favorável à dualidade espírito-matéria do ser humano.

Pesquisadores e autores consagrados tais como a Dra. Elizabeth Klubber-Ross (doutora em psicologia e criadora da tanatologia, ciência que estudo o fenômeno da morte) ou ainda o psicólogo Ken Wilber, autor do livro Psicologia Integral (editora Cultrix), entre outros autores consagrados cujas pesquisas e trabalhos apontam cientificamente na direção da dualidade espírito-matéria do ser humano.

O psicólogo americano William James em seu livro A Vontade de Crer observou que nada se constrói sem premissas. Se o homem busca a verdade é porque crê em sua existência. Do mesmo modo, se o homem busca Deus e o espírito é porque de fato crê na existência de ambos. Assim, a crença universal em Deus e na espiritualidade humana, encontrada até mesmo entre as culturas mais primitivas, representa mais que uma simples hipótese. James afirmou que o Iluminismo (movimento intelectual anticristão que implantou a república na França em 1789) engendrou disseminou mundialmente uma postura cética em à espiritualidade humana, firmando-a como ilógica e ilusória. Desafiando os céticos, William James escreveu:

“Por que são tão poucos os cientistas que dão atenção às evidências em favor da telepatia? Por que pensam que se tal coisa existisse deveriam unir-se para suprimi-la e ocultá-la? É porque a realidade da telepatia interferiria com a uniformidade da natureza e de todas as coisas, sem as quais os cientistas materialistas não podem conseguir seus propósitos”.

Se James vivesse hoje exultaria ao saber que desde Einstein (física relativística que destronou a mecânica newtoniana) e Plank (criador da teoria dos quanta, que derrubou a teoria atômica materialista, e deu origem à ciência quântica atual), a ciência materialista perdeu suas bases principais: a concreticidade, a objetividade e o determinismo. Convencidos da realidade de uma dimensão transfísica do universo, Einstein escreveu:

“É impossível conflito entre ciência e religião, uma vez que a ciência só pode verificar aquilo que é, mas não o que deve ser. O critério sobre valor está além de seu alcance. Descobrir a finalidade do ser e consolidar os valores na vida diária é a tarefa mais importante da religião... A ciência sem a religião é cega, e a religião sem a ciência é coxa”. (Einstein: O enígma do universo. Editora Alvorada. Pg. 200).



Representando o pensamento científico mais recente, o físico Paul Davies escreveu:

“A ciência recentemente avançou a tal ponto que o que antes eram questões religiosas, hoje podem ser consideradas seriamente pela ciência como indicações de amplas conseqüências da nova física. Em minha opinião, a ciência atual oferece um caminho para Deus mais seguro do que a religião”. (Dr. Paul Davies, físico. Deus e a Nova Física. Editora Gradiva. Portugal).

Posso fazer centenas de citações similares colhidas em centenas de obras de centenas de autores diferentes em todas as áreas da ciência contemporânea. A dimensão transfísica da ciência do século XX e XXI aliada à desmoralização do materialismo dialético (de Marx e Engels) e à desintegração do império comunista (materialista e ateu) foram eventos históricos que praticamente enterraram a visão materialista do universo e do ser humano (embora muitos ainda teimem em se declararem materialistas). Para a nova ciência quântica a natureza essencial do universo não é a matéria, mas a energia e a consciência, elementos transfísicos quase indefiníveis.

Raymond Johnson, outro influente pensador norte-americano da Universidade de Melbourne, escreveu:

“O mundo das colinas e das rochas, das mesas e das cadeiras é para o homem comum e reflexivo o único mundo real. Pode ser que tenha havido alguma desculpa para a filosofia materialista do século XIX que apoiava essa opinião, mas os descobrimentos da física moderna solaparam essa visão. A própria física demonstrou que a consistência do mundo material é ilusória”.

Atualmente, existe uma vasta quantidade de estudos e pesquisas científicas publicadas sobre a espiritualidade humana, além de grupos religiosos e científicos à disposição dos leitores e pesquisadores sérios que queiram constatar a realidade da dimensão espiritual dos seres humanos. E é esta dimensão espiritual, mais do que qualquer outra coisa, o que distingue e separa o homem do reino animal, elevando-o e alocando-o no reino hominal, ou humano, o IV reino. Biologicamente o homem é um animal; mas a sua natureza bidimensional (corpo físico e corpo espiritual; com necessidades físicas e desejos espirituais) exige que seja classificado em um reino à parte, pois nenhum animal possui o nível de autoconsciência, criatividade e desejo espiritual que o ser humano. Todas estas pesquisas e livros buscam evidenciar uma crença (a dualidade humana espírito-matéria) que, como disse o sociólogo Emily Durkhein “de tão universal e histórica, chega a ser natural.” O impulso vertical homem-Deus é tão universal, histórico e inato quanto o impulso horizontal homem-mulher, o que torna a dimensão espiritual do ser humano quase um fato absolutamente inegável.

Assim, a nova ciência quântica parece caminhar inteira para a afirmação de um fato: o ser humano não é um simples corpo material. Além da sensorialidade física, o homem possui sensibilidade, emotividade, intelectualidade, criatividade, racionalidade e memória. Reduzir toda a complexidade da natureza humana a um mero pedaço tosco de matéria em movimento, não só é uma barbárie anticientíca, é um ato de fé cego na matéria (vista como algo concreto e sem conteúdo teórico), mas misticamente identificada com um deus; um ser criador supremo. Para a nova ciência quântica (transfísica, sistêmica e holística) os cientistas que ainda defendem essa visão superficial, mutilada e tosca do ser humano, não são mais cientistas, mas místicos dogmáticos.

Os aspectos transfísicos, ou espirituais, da natureza humana (sensibilidade, emotividade, intelectualidade, racionalidade, criatividade e memória) não possuem concreticidade. Portanto, não podem ser considerados fenômenos materiais. Assim, pode-se aceitar que o pensamento científico pós-moderno atual suplantou e superou a visão materialista do homem da idade modernista. Sendo assim, as teorias da educação inspiradas no materialismo e no pensamento modernista precisam ser atualizadas e complementadas com os novos elementos transfísicos (espirituais e morais) constituintes da natureza humana em uma holopedagogia, visando a educação integral do ser humano. Neste novo cenário científico educar não é meramente profissionalizar (ensinar um ofício produtivo). Educar um ser humano é prepará-lo para viver e conviver na família, na Escola e na sociedade.



3. A Criança e a Necessidade de uma Educação Integral



Se o ser humano é um ser dual espírito-matéria, como deverá ser a sua educação? Deverá direcionar-se para o seu aspecto físico ou espiritual? Do ponto de vista biológico o homem é um animal. Assim, do mesmo modo que é possível gerar reflexos condicionados em cães, macacos, elefantes, etc, como demonstrou o cientista russo Ivan Pavlov (1849-1936) em seus estudos sobre reflexos condicionados, os homens também podem ser condicionados por meio da repetição de idéias e ações, gerando hábitos. O que nunca se viu (nem nunca se verá), porém, foi um macaco ou um cão compor uma sinfonia, inventar um computador ou construir uma catedral para cultuar seu Criador, entre outras coisas que somente o ser humano foi capaz de criar e fazer. Por que não? Porque a criatividade não é um condicionamento biofísico forjado de fora para dentro, mas um atributo exclusivo da natureza espiritual do ser humano. Por isso, embora existam os grupamentos animais biossociais das abelhas, das formigas, dos cupins, entre outros, e alguns macacos e pássaros possam se utilizar de “ferramentas” (gravetos ou pedras) e transmitir comportamentos rudimentares (como o ato de lavar de batatas antes de comê-las, coisas que alguns chamam de cultura animal), nenhum animal cria realmente o progresso. Todos os animais apresentam comportamentos biossociais invariáveis no tempo e no espaço. As abelhas constroem colméias do mesmo modo há milênios, os macacos utilizam gravetos, pedras e outros atos há milênios, mas estes fenômenos foram descobertas apena recentemente. A diferença e a distância entre a chamada “cultura” animal e a cultura humana continuam sendo infinitas. Todos os esforços históricos do materialismo não foram suficientes para reduzir o ser humano à condição de um simples animal. Por tudo isso a conclusão deve ser que o homem é o único ser bicorpóreo da natureza; é um ser espiritual eterno dotado de um corpo material temporário.

Assim, a educação voltada apenas para os aspectos externos da natureza humana (técnica, artística, cultural e esportiva) é um modelo de educação parcial; um velho conceito pedagógico materialista que despreza o que de mais valioso e essencial existe no homem: sua natureza espiritual (sua dimensão moral, ética e espiritual).



4. O Estado e a Educação Integral



Considerando-se a natureza dual (corpo físico e corpo espiritual; necessidade materiais e desejos espirituais) dos seres humanos, a educação deveria necessariamente atender aos dois aspectos da natureza humana. Ou seja, a educação externa: cultural, técnica, artística e esportiva; e a educação interna: moral, ética e espiritual. Chamamos a este modelo dualista educacional de holopedagogia, ou educação integral. Sendo o homem um ser espiritual eterno (vivendo em um corpo físico temporário na Terra), a educação interna é mais valiosa, subjetiva e deve ser prioritária. Observamos na escola contemporânea exatamente a situação inversa. A ênfase está focada na profissionalização (educação técnica), o aspecto mais superficial da educação externa. Ocorre que profissionalizar não é o mesmo que educar. Profissionalizar é ensinar uma atividade técnica; um ofício voltado para a atividade produtiva e a sobrevivência física dos indivíduos, enquanto educar é preparar para a vida; é preparar os indivíduos para as relações intrapessoais, interfamiliares e sociais. Educar é orientar e encaminhar os indivíduos, visando sua plena realização pessoal, familiar e social. Isto somente será possível por meio de uma educação integral. Hoje, a educação foi confundida e quase substituída pela profissionalização. Este equívoco teórico pode estar na raiz de toda a problemática social contemporânea, que começa na desagregação familiar, estende-se para o sistema educacional e culmina na desagregação da sociedade (aumento da criminalidade no governo e no povo).

Desse modo, o atual sistema educacional, baseado no materialismo e voltado para a profissionalização (educação técnica) conduzirá impreterivelmente à desintegração da sociedade, confirmando as palavras do escritor cubano José Mártin: “Uma nação sem religião morrerá porque nada lhe alimentará a virtude.” Em outros termos: uma nação sem educação interna (espiritual, moral e ética) se desintegrará porque nada lhe alimenta a virtude. Não estamos já assistindo à desintegração da sociedade brasileira? Não terá sido este o motivo pelo qual o Ministério da Educação oficializou os cursos universitários de Teologia e Ciências da Religião (graduação, pós-graduação e mestrado)? Não terá sido este o motivo pelo qual o Ministério da Educação reintroduziu na escola pública as disciplinas de filosofia e ensino religioso? Para fortalecer a educação interna? E qual tem sido a postura dos professores da Universidade e da Escola quanto à educação interna?



6. A Origem Histórica do Caos Pedagógico



Qual a origem histórica do caos pedagógico? Uma causa externa foi a mentalidade modernista. Em 1513 Nicolau Maquiavel (1469-1527) lançou seu livro O Príncipe no qual defendeu a separação total entre o Estado e a Igreja. A partir daí muitos governos deixaram com a Igreja a responsabilidade pela educação interna da humanidade, e voltaram-se exclusivamente para a educação externa. Ocorre, porém, que a força do Estado superou a força das religiões, que imaturas ideologicamente, não foram capazes de acompanhar o desenvolvimento do pensamento científico, mantendo-se no âmbito dos dogmas, mistérios, metáforas, crenças mítico-mágicas e e imagens místicas como se tais elementos correspondessem à realidade. Por exemplos: Na esfera cultural judaico-cristã: criação do universo em 6 dias de 24 horas; o aparecimento de uma besta com 7 cabeças, Jesus descendo das nuvens da atmosfera terrestre, a recomposição de corpos decompostos na ressurreição, arrebatamento ao Céu sem morte física, incineração e reconstrução instantânea do planeta Terra, etc. Na esfera cultural afro-indiana: Krishna, um deus de pele azul que teve 16.000 mil amantes; Laksmi, uma deusa de 4 braços, Ganesha, um deus com cabeça de elefante (como as sereias e os centauros, etc), a crença no renascimento físico como criança, a reencarnação do espírito humano em corpos animais, entre outras crenças ilógicas em aberta contradição com a realidade e os fenômenos do mundo natural descobertos pela ciência. Disto resultou que a ciência (a verdade externa) se desenvolveu e se expandiu, enquanto a influência da religião (a verdade interna) enfraquecia e declinava rapidamente. A ciência pregava a felicidade material aqui e agora, o Céu na Terra; enquanto a religião pregava a felicidade no mundo espiritual, a renúncia e o sacrifício aqui e agora, utilizando-se, para isso, de argumentos misteriosos, ultrapassados e incompreensíveis para o homem científico do século XX. Em contraposição, o materialismo avançou, atingiu o ateísmo dito “científico” e expandiu-se para o mundo inteiro.

Hoje, a situação é realmente grave. O materialismo não conseguiu satisfazer plenamente a natureza humana porque enfatizou apenas a dimensão física do homem. Por sua vez, a religião institucionalizada, não possuindo força para levar seus líderes nem os seus fiéis à prática dos dogmas que defendem, estão em célere decadência e esvaziamento. Assim, o homem ficou perdido no meio desse caos incompreensível. Sem rumo claro e definido, a humanidade partiu para a prática independente da espiritualidade e para a busca direta de Deus, forjando milhares de seitas e deuses de inspiração afro-indiana (pensamento mítico-mágico politeísta), afastando-se do pensamento monoteísta cristão (que criou a mais elevada de todas as civilizações da história: a civilização cristã ocidental).

Se esse caos ideológico e essa confusão de valores está incutido na mente da população adulta (líderes, pais e professores), o que transmitirão eles às crianças? Naturalmente, o que possuem. Aí, pois, pode estar a raiz do desastre: crianças lendo revistas e sites imorais, usando palavras, gestos e atitudes indecentes; crianças e adolescentes delinqüentes e completamente ignorantes, assaltando, roubando e matando; crianças e adolescentes perdidos nas ondas do rock-terror embalados pelas drogas e pela degenerescência sexual numa rebelião sem causa e um forte desprezo por todos os valores sociais manifestado no modismo niilista da moda punk; está aí a negação radical da família, e com ela, a desagregação súbita da própria sociedade humana.

A quem cabe a responsabilidade por isso? Ao indivíduo, à família, à escola, à Igreja ou ao Estado? Na estrutura da sociedade atual o Estado está no topo. É ele quem determina o que é bom ou mau para o restante da sociedade. Aí está o problema. Se o Estado está dissociado da Igreja (educação interna), como terá condição de fornecer os subsídios essenciais (espirituais) para conservar a coesão e a estabilidade social? Como disse o escritor cubano José Martin: “Uma nação sem religião morrerá porque nada lhe alimentará a virtude”. Um líder de Estado sem religião (ou pseudo-religioso) poderá trazer algum desenvolvimento material, mas jamais trará a paz e a felicidade da nação, porque a felicidade do homem depende essencialmente de sua natureza espiritual.

Hoje, milhares de pessoas que tentam ser felizes centradas apenas pela matéria estão à beira da loucura e do suicídio. Os ex-países comunistas são os maiores exemplos do fracasso do ideário materialista. Hoje, mais que em todas as épocas, está confirmada a queda do materialismo. A crise generalizada que o mundo atual está atravessando representa o efeito da crise existencial que o ser humano está vivendo e exteriorizando em sua ação social.

Jamais haverá paz social enquanto não houver paz no coração dos homens. Especialmente, dos adultos. E como haverá paz nos adultos enquanto perdurar o egoísmo e a predileção exclusiva pela matéria? E como o homem poderá transformar-se se não receber orientação? Se a mudança interna já não é possível nos adultos é perfeitamente possível nas crianças, pois é delas que brotarão as famílias, as sociedades e os Estados do amanhã.

O mundo está em crise. Uma crise de idéias e de valores. Por isso, nosso tempo exige uma revolução, não uma revolução externa (dosistema político-econômico), mas uma revolução interna, uma revolução de valores. A era das revoluções externas (baseadas no ódioe na violência) acabou juntamente com o marxismo e o comunismo. Hoje precisamos de uma revolução, mas uma Revolução do Homem, uma revolução na teoria e na prática pedagógica, como disse o historiador inglês Arnold Toymbee, um dos pensadores mais respeitados do século XX, em seu livro Um Estudo da História:

“Precisamos re-humanizar nossa educação, e eu penso que isto requer uma nova ideologia, uma nova cosmovisão, e não apenas uma nova teoria educacional. Para ser eficaz, tal ideologia deve ser uma nova visão filosófica e espiritualista capaz de trazer uma mudança na ordem das nossas prioridades”.



7. A Criança na Teoria Deusista



A antropologia Deusista vê o homem como um ser divino dotado de uma natureza original que o leva a buscar coisas para satisfazer as necessidades materiais de seu corpo (nutrição, reprodução, repouso e proteção) e coisas para satisfazer os desejos espirituais de seu espírito (verdade, beleza e bem; ciência, arte e bondade). A antropologia Deusista vê o homem como um ser originado que reflete as características do Ser Original que o criou, sendo essencialmente um ser dotado de emoção, intelecto e vontade. Um ser dual, cuja estrutura se compõe de dois corpos (espiritual e material) constituídos ambos de energia (vibrando em diferentes freqüências). Vê ainda a natureza espiritual do homem como sendo mais importante que a física em vista de sua eternidade.

Logo, uma verdadeira educação humana não pode prescindir do elemento mais essencial, que é a educação interior; a educação moral, ética e espiritual. A educação integral formará o homem internamente e o transformará socialmente, pois priorizará a educação de seu caráter. Com as crianças e os jovens assistindo a tantos crimes, roubos e agressões diariamente na TV, e sem receber dos pais, dos professores, nem dos homens adultos responsáveis pela direção do país alguma alternativa que as impulsione na direção do bem, tenderão naturalmente para a irresponsabilidade, a violência e o crime. Eis a explicação lógica para o aumento constante da desagregação social atual. Assim, a Pedagogia Essencial vê na reintrodução do ensino moral e ético na Escola e na Universidade a alternativa mais segura para o futuro. Sem uma boa educação integral e adequada para as crianças, que futuro poderemos esperar?

Nenhum governante ou educador responsável poderá desprezar a coerência e cientificidade e a necessidade urgente da holopedagogia. Naturalmente, o nova grade curricular de uma nova visão educacional — a Pedagogia Essencial —, deve integrar princípios educacionais da ciência (educação externa; verdade externa) e da religião (educação interna; verdade interna), não poderá incluir dogmas e mistérios estabelecidos arbitrariamente e em contradição com a lógica e os com os fatos científicos. Ao contrário, deve ser um mosaico representativo de todo o pensamento humano (científico e religioso), e deve vir apoiado nas últimas descobertas da ciência atual (não da ciência materialista, mas da ciência unicista contemporânea) de modo que seja aceita e respeitada por todos os grupos em todos os níveis da sociedade brasileira.



8. A Holopedagogia e a Educação no Brasil



Muito acertadamente, o governo federal autorizou o retorno do ensino religioso às universidades e escolas brasileiras. Necessariamente deve haver educação religiosa (educação do caráter, interna) nas escolas e universidades do Brasil. Mas, que tipo de educação religiosa deverá ser adotada? Uma religião tem por finalidade transmitir a educação divina, a educação do caráter, possibilitando a reaproximação entre o homem e Deus através do ensino de um comportamento moral e ético natural compatível com as leis de Deus e da natureza (tal comportamento é a fonte da alegria humana). A Pedagogia Essencial, ou holopedagogia, é uma teoria e um método pedagógico que incorpora a essência dos mais valiosos ensinamentos espirituais universais da humanidade, unificando-os (fundamentando-os) na mais alta ciência do século XX e XXI.

Em três décadas de experiência mundial, a Pedagogia Essencial, ou holopedagogia, demonstrou completa aceitação em todo o mundo e em todos os níveis sociais, prestando-se atestes e confrontos com quaisquer outros sistemas pedagógicos. A sua rápida expansão e aceitação mundial (em dezenas de escolas e universidades em dezenas de países) são uma prova mais real de seu valor, de sua autenticidade e de sua conseqüente validade e aplicabilidade.

A Pedagogia Essencial, ou holopedagogia, se inspirou e se fundamenta na Filosofia da Paz, o Deusismo, uma visão da natureza, do homem e da sociedade que busca a unificação dos elementos distintos e complementares da sociedade humana (oriente-ocidente, religião-ciência, espírito-matéria, etc), visando o estabelecimento da paz mundial, a qual nasce no coração de indivíduos e de famílias de paz.

O homem é o que herda dos seus antepassados e o que faz de si mesmo. Por isso, certamente, nossos filhos serão o que legarmos a eles. Se lhe dermos uma boa educação integral eles viverão num mundo pacífico e próspero; se os desprezarmos e continuarmos a semear o materialismo e todos os vícios e maus costumes atuais, verdadeiramente estaremos lhes destinando a um futuro idêntico ao presente. Através da Pedagogia Essencial, ou holopedagogia, poderemos fazer uma revolução no coração humano; uma revolução silenciosa e pacífica com base no amor e na verdade, a educação integral (educação interna + educação externa), uma educação que respeite a Deus e ao homem e lhe forneça o que mais ele tem buscado através da história: o conhecimento de sua origem, finalidade e destino; e lhe devolva a esperança de uma vida tranqüila em um mundo natural de paz e prosperidade.

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